Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A melhoria nas condições sanitárias do país nas últimas décadas pode estar contribuindo para o aparecimento tardio – e mais perigoso – de casos de hepatite A nos brasileiros. Um dos grupos mais sensíveis à doença é o das pessoas que têm o vírus HIV, que apresentam mais dificuldades para se curar.As conclusões fazem parte de um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado este mês. Realizado pelo Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia, o trabalho é resultado de 20 anos de pesquisa, com mais de 500 pacientes.Segundo a pesquisadora e bióloga Vanessa de Paula, existe uma relação entre a transmissão da hepatite A, a infra-estrutura urbana e a classe social do paciente, uma vez que a doença é transmitida por via fecal-oral, e tem maior incidência em locais onde há esgoto a céu aberto, problema comum em favelas e comunidades pobres do país. Uma das formas de contágio é o banho em locais poluídos, como praias que recebem grande quantidade de esgoto ou valões.A especialista destaca que os bairros mais estruturados dificilmente apresentam condições sanitárias precárias, o que protege a população, principalmente as crianças, que tendem a se expor com mais freqüência à poluição da rua. “A falta de saneamento básico favorece a transmissão do vírus, que é muito comum em comunidades com piores condições socioeconômicas”, disse Vanessa.Segundo ela, no Brasil a doença atinge entre 50% e 70% da população, sendo que muitas pessoas são infectadas ainda na primeira infância. Algumas crianças podem chegar aos 6 anos de idade praticamente sem ter sintomas da doença, sentindo apenas desconfortos. Quem foi infectado uma vez fica imune para sempre.No entanto, como o perfil da hepatite A está mudando, migrando para uma infecção tardia, o problema é ficar doente na fase adulta, quando os efeitos no organismo são mais graves. O doente apresenta icterícia (pele amarelada), fezes claras, urina escura, olhos amarelados, fadiga e dores abdominais. Ainda assim, segundo a pesquisadora da Fiocruz, o paciente se cura sozinho, sem precisar de remédios específicos, no período de três a seis meses.Mais grave é a situação das pessoas com HIV, que tendem a permanecer meses sem se livrar da hepatite A e acabam perdendo qualidade de vida. “Por eles estarem imunodeprimidos, o corpo não consegue eliminar o vírus [causador da hepatite A] com facilidade e a doença fica arrastada, durando muitos mais meses do que no paciente sem HIV”, afirmou a pesquisadora.De acordo com ela, uma forma de evitar o agravamento do problema é a vacinação seletiva, fazendo uma triagem para descobrir quem já teve a doença e não precisa da vacina e quem ainda não foi exposto ao vírus e tem risco de contraí-lo.