Radioamadores clandestinos tentavam desviar rotas de trens em Ourinhos

22/08/2008 - 7h36

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Alémde atrapalhar a comunicação entre os trens e a estaçãode controle na cidade de Ourinhos (SP), os interceptadoresidentificados pela Operação Linha Cruzada, da PolíciaFederal, tentavam desviar a rota dos trens. De acordo com ovice-presidente da Liga de Amadores Brasileiros de RádioEmissão de São Paulo (Labre-SP), JoséArmando de Macedo Soares Júnior, os infratores passavaminstruções falsas para os maquinistas.

“Essaspessoas são criminosas, não deu para entender qual eraa intenção delas”, afirma. Ele explica que asinterceptações foram feitas por equipamentos de uso deradioamadores, mas quem os utilizava não pode serconsiderado radioamador. “Para ser um radioamador, épreciso atuar apenas dentro da faixa estabelecida pela Anatel[Agência Nacional deTelecomunicações].Mesmo tendo autorização, se utilizar a comunicaçãofora da faixa, é considerado clandestino”, diz.

ALabre está auxiliando a Polícia Federal nasinvestigações, fazendo aintermediação das informações entre osradioamadores locais e as autoridades policiais. “Existe uma lei dosilêncio na cidade, a pessoa que aparece nas gravaçõesexerce grande influência ou temor nos moradores”, diz Júnior.Para ele, ações como essas prejudicam a imagem dosradioamadores junto à sociedade.

Emtrechos da gravação da interferência, aos quais a Agência Brasil teve acesso, um homemreclama do apito do trem, que passa próximo à sua casa,e faz ameaças aos operadores. O clandestino não seintimida nem ao ser informado de que as conversas estavam sendogravadas e seriam analisadas pela Polícia Federal. Durante aconversa, o operador da empresa alerta para o risco de um acidentepor causa das interferências.

Odelegado responsável pela Operação LinhaCruzada, José Navas, disse que foram identificadasinterferências procedentes tanto de equipamentos clandestinos quantode autorizados. Segundo ele, a maioria dos equipamentos apreendidosera utilizada por radioamadores sem autorização daAnatel para operar. No entanto, também foram recolhidosequipamentos de pessoas com autorização, para verificarse elas também poderiam estar interferindo na comunicaçãodos trens.

De acordo com Navas, a Polícia Federal de Marília (SP) está ouvindodezenas de pessoas que podem estar envolvidas na comunicaçãoclandestina. Os equipamentos foram enviados para a perícia e o delegado deve pedir a prorrogação do prazo de 30 diasestabelecido para a conclusão do inquérito.

Aoperação apreendeu cerca de 20 equipamentos deradioamador que poderiam estar interferindo na operaçãode deslocamento dos trens e vagões que cruzam a áreaurbana de Ourinhos. Pelo local, passam diariamente vagões comquase 500 mil litros de álcool combustível e outros 250mil litros de materiais inflamáveis.