Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O depoimento prestado hoje (7) pelo professor universitário Hugo Chicaroni ao juiz Fausto De Sanctis vai ajudar a provar a inocência do banqueiro Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity, acredita o advogado Nélio Machado, defensor do empresário."Meu cliente foi inocentado em razão do que eu pude ouvir aí", disse o advogado, ao deixar o prédio da Justiça Federal, na noite de hoje, em São Paulo, após acompanhar o depoimento de Dantas ao juiz. Seguindo sua orientação, o banqueiro permaneceu em silêncio durante o interrogatório De Sanctis.Dantas é investigado na Operação Satiagraha e suspeito de liderar um grupo envolvido em crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha.O banqueiro também é suspeito de ter pedido a Hugo Chicaroni e Humberto Braz, ex-diretor da Brasil Telecom, para subornarem um delegado da Polícia Federal com o objetivo de retirar o seu nome das investigações. Imagens feitas pela Polícia Federal flagraram a tentativa de suborno ao delegado feita por Chicaroni e Braz, únicos investigados na operação que ainda permanecem presos.Em seu depoimento, Chicaroni confessou que o dinheiro apreendido pela PF em sua residência, durante as diligências feitas na Operação Satiagraha, eram do Opportunity e serviriam para pagar o suborno ao delegado federal. Chicaroni também teria dito ao juiz, segundo seu advogado, Alberto Carlos Dias, que o delegado Protógenes Queiroz, responsável pela operação, era seu amigo e que teria armado a tentativa de suborno.O depoimento de Chicaroni também pôs em dúvida a tese defendida ontem (6) pela defesa de Humberto Braz, que apontava que os dois só teriam se aproximado porque o professor universitário seria ligado à Agência Brasileira de Informação (Abin). Os advogados de Chicaroni negaram hoje que Chicaroni tivesse qualquer ligação com o órgão."O senhor Humberto Braz, em suas declarações, disse que em uma oportunidade se sentiu perseguido e nesta abordagem a um carro que o perseguia, [as pessoas dentro do veículo] identificaram-se como agentes da Abin. Mas não procede a informação que Chicaroni faça parte do corpo da Abin", disse Dias.Renato de Moraes, advogado de Humberto Braz, voltou a dizer hoje que seu cliente achava que Chicaroni era membro da Abin e que por isso o procurou e acertou a reunião num restaurante da capital paulista. O encontro foi filmado pela PF, que apontou em seu relatório que este, ao contrário do que a defesa argumentou, teria servido para acertar o pagamento do suborno ao delegado federal."Começou com a informação, que foi um comentário do próprio Humberto Braz, de que ele [Chicaroni] prestaria, por meio de uma empresa, não sei se dele ou de um sócio, serviços à Abin. Mas isso, por meio de um requerimento formal, a Abin vai poder esclarecer se contrata serviços terceirizados", disse Moraes.Ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas, o delegado Protógenes confirmou ter usado membros da Abin durante as investigações, embora a agência não tenha sido usado como instituição durante a Satiagraha.Segundo o advogado Nélio Machado, Protógenes "é uma figura que tem caracterizado a sua conduta por, no mínimo, ser polêmico". Para ele, o delegado "usou a Abin de forma indevida como se fosse uma ação entre amigos". De acordo com Nélio, Daniel Dantas deverá prestar novo depoimento à Justiça no próximo dia 14.