Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O bom desempenho dos cursos de universidades públicas noExame Nacional de Desempenho (Enade) do ano passado éconseqüência da formação dos professores edo rigor na seleção dos alunos. A avaliaçãoé da professora da Faculdade de Educação daUniversidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Bertha do Valle. “Asuniversidades públicas levam vantagem sobre as particularesporque, além de terem um corpo docente formado por mestres edoutores, os vestibulares para as públicas são muitorigorosos. Então, nós recebemos os melhores alunos queo ensino médio produziu. A nossa matéria-prima jáé selecionada, o que não ocorre nas particulares. Muitas nem fazem o vestibular”, disse, em entrevista à RádioNacional.Osnúmeros do Enade, divulgados ontem (6) peloMinistério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacionalde Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mostraram uma maior concentração de cursos com as notasmais altas entre as universidades e faculdades públicas. Poroutro lado, a maior parte dos cursos com as notas mais baixas estánas instituições privadas.Aprofessora lembra que o maior problema do Brasil no campo da educaçãoainda está no ensino fundamental. “Mesmo os alunos que fazemvestibular para universidades públicas às vezesapresentam deficiências de ortografia e de raciocíniomatemático que espantam”, relata.Para LighiaMatsushigue, do Grupo de Trabalho de Política Educacional doSindicato Nacional dos Docentes das Instituições deEnsino Superior (Andes), o resultado do Enade, que mostra deficiências em grande parte dos cursos de universidades particulares, é conseqüênciado mercantilismo no ensino superior. “O resultado decorre de umaanomalia apenas tolerada em países considerados periféricos,que é uma absoluta dominância do setor mercantil naeducação superior”, diz.Eladiz que o Enade não é adequado para avaliar o ensinosuperior e não ajuda a resolver a qualidade da educação.Matsushigue defende a valorização dos professores, paraque seja possível haver um quadro docente estável nasinstituições.Apresidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), LúciaStumpf, disse que não ficou surpresa com o desempenho dasinstituições particulares no Enade. Segundo ela, épreciso regulamentar o ensino privado, para que as universidadesparticulares também possam oferecer um ensino de qualidade.“Épreciso um conjunto de leis que garantem que as faculdades sópossam existir se atenderem uma série de requisitos, para queessas instituições caça-níqueis,descompromissadas com a educação que oferecem, epreocupadas apenas com o lucro de seus donos sejam obrigadas a fecharas portas”, defende.Lúcia comemorou a implementação do Conceito Preliminar deCursos (CPC), um novo indicador de avaliação que levaem conta, além dos resultados da prova do Enade, ainfra-estrutura do curso, a titularidade dos professores e aavaliação dos alunos sobre o currículo. Paraela, essa foi uma vitória do movimento estudantil, quecriticava a avaliação exclusivamente por meio de provasaplicadas aos alunos.