Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Último dosconvidados pelo Ministério da Justiça a se pronunciarno seminário promovido hoje (4) sobre a demarcaçãoda Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o senador MozarildoCavalcanti (PTB-RR) criticou a programação do evento eos índios favoráveis à demarcaçãoem área contínua. O senador é autor de uma dasações que contestam, no Supremo Tribunal Federal (STF), ahomologação da área de 1,7 milhão dehectares. O julgamento será em 27 de agosto.“Não éum debate paritário. Nove expositores comungam de um ponto devista, favorável à demarcação contínua,e apenas dois não comungam. Por que está aqui sóuma entidade indígena de Roraima? Foi um debate apenas meiodemocrático”, reclamou Cavalcanti. Segundo o senador, seuposicionamento não se deve à defesa de “meia dúziade arrozeiros”, que produzem na área demarcada: “Temcentenas de famílias de agricultores pobres de quatro municípiossendo excluídas de lá com ofertas de indenizaçãoindignas. Defendo eles e também os arrozeiros, que sãobrasileiros”, afirmou o senador. Para evitar supostosriscos à soberania nacional em uma área onde, alega, há descaminho de minerais e narcotráfico, Cavalcantipropôs a retirada de 320 hectares da área demarcada,para deixar de fora estradas federais, áreas produtivas efaixas de fronteira. O senador tambématacou o Conselho Indígena de Roraima (CIR), ao citar que aentidade tem parcerias com organizações na Itália,Inglaterra, Holanda, Noruega e Estados Unidos na luta pela manutençãoda demarcação contínua. “Seria uma beleza queessa gente que exterminou seus índios estivesse realmentepreocupada com os nossos”, ironizou Cavalcanti. As críticas deCavalcanti quanto à programação do evento foramrebatidas pelo consultor jurídico do Ministério da Justiça, Rafael Favetti, quemediava o debate. “Várias instituições contrárias à demarcação foram convidadase se negaram a comparecer. Já em Roraima há hoje umevento semelhante e para esse ninguém chamou o governo federal”, argumentou Favetti. As palavras do senadortambém provocaram a reação indignada de indígenasque estavam na platéia. O tuxaua (cacique) da comunidadedo Maturuca, Dejacir da Silva, afirmou que o parlamentar era“anti-indígena” e nunca procurou os índios paradialogar.