Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O brasileiro segue uma lógica para votar, mas ainda é muito reduzida a participação da sociedade no processo político-eleitoral. Em entrevista à Agência Brasil, o mestre em ciência política, Alberto Carlos Almeida, professor da Universidade Federal Fluminense, diz que a participação popular no Brasil só será ampliada com o aumento da escolaridade.
Na próxima semana, o cientista política lança, no Rio de Janeiro, livro que retrata a importância e o peso da escolha do eleitor no processo política. mostra o que tem peso na escolha do eleitor. Em A cabeça do eleitor é uma cabeça lógica, Almeida mostra que, estaticamente, é possível comprovar que governos bem avaliados, em geral, ganham quando se candidatam à reeleição. A obra se baseia também na experiência do autor emcampanhas políticas realizadas em 2004 e 2006, em governos estaduais emunicipais.
Almeida coordenou as pesquisas eleitorais da Fundação Getulio Vargas, entre 2002 e 2005, e do instituto de pesquisas Ipsos Public Affairs. Ele também é diretor de pesquisas do Instituto Análise.Agência Brasil - O que rege a cabeça do eleitor na hora do voto? Quais são os fatores principais que contribuem para que o cidadão dê o seu voto para este ou aquele candidato?Alberto Carlos Almeida - O eleitor tem vários motivos para escolher votar em alguém. A avaliação do governo é um elemento fundamental. Se o candidato tem uma marca pessoal ou não. O candidato tem identidade? Isto é, candidatos nebulosos, que têm uma identidade confusa, não vencem eleições. Outro fator é a lembrança do candidato, o chamado recall. Quanto mais lembrado é um candidato, mais chances ele tem. Ele sai na frente na corrida eleitoral. O quarto elemento é a combinação entre o currículo do candidato e os problemas a serem resolvidos no futuro. Esse é um exemplo clássico que acontece em centenas de municípios brasileiros. Onde o principal problema é a saúde, muitas vezes, o candidato que é um médico vence a eleição. Justamente porque o currículo dele combina com o principal problema do eleitorado. A rejeição do candidato é o quinto fator e, por último, os apoios políticos.ABr - As alianças feitas entre os partidos políticos nas eleições são um fator que favorece ou atrapalha o voto do eleitor?Almeida - Isso não tem impacto. A única coisa que tem impacto é se você tem um prefeito bem ou mal avaliado e se ele tem um candidato. Aquela avaliação, boa ou não, tem impacto no desempenho do candidato dele. O presidente [da República, Luiz Inácio Lula da Silva] atualmente está muito bem avaliado, mas não é por isso que ele vai eleger quem indicar. Isso não acontece. Um governador bem avaliado não elege os prefeitos que indicar.
ABr - As promessas que alguns candidatos fazem e que não são cumpridas são levadas em conta pelos eleitores numa tentativa de reeleição?Almeida - Sim. Os eleitores levam em conta. Se o eleitor avaliar que nada foi cumprido, ele não vota no candidato.
ABr - A base governista está tentando criar um novo tributo para a saúde, para substituir a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), com o nome de Contribuição Social para a Saúde (CSS). Os jornais publicaram uma lista dos deputados federais que votaram a favor da criação do novo tributo. O senhor acha que o brasileiro tem memória e vai recorrer a essa relação para identificar os candidatos que foram contra os seus interesses, no caso das pessoas que não querem a CSS?Almeida - O eleitor não tem memória de quem ele votou na última eleição. Isso é um problema sério. Então, ele pode não saber se o deputado dele votou de acordo com o que ele queria ou não. O eleitor não tem memória não só por culpa dele, não. O sistema eleitoral brasileiro não facilita isso.
ABr - O senhor acha que deveria haver mecanismos de informação ao eleitor, ao cidadão brasileiro, para que ele possa dar o seu voto com mais fundamentos?Almeida - O voto é aceito com os fundamentos necessários para votar. Como eu disse, um governo bem avaliado é mantido. Isso é um voto com fundamento. Um governo mal avaliado perde a eleição. Isso é um voto com fundamento. O que acontece é que a lembrança do candidato, a maneira de você informar permanentemente o eleitor, é com voto distrital. Isso eu estou falando com relação a deputados.
ABr - O histórico do candidato também pesa na escolha do eleitor? O eleitor se identifica um pouco mais ou menos com determinado candidato, dependendo do histórico dele?Almeida - Não é nem questão de identificar. É ver se o currículo do candidato dá autoridade a ele para prometer o que promete. Isso remete ao caso do médico que promete melhorias na saúde e o currículo em si já dá essa autoridade.
ABr - O eleitor médio tem pouca ou quase nula informação sobre o que acontece em política no país? Ele se interessa sobre o tema da política?Almeida - Quanto menor a escolaridade, menor o interesse pela política. Como a escolaridade no Brasil é baixa, então o interesse médio pela política é bastante baixo.
ABr - Com um maior ênfase ao investimento em educação, essa situação melhoraria?Almeida - Sem dúvida. O interesse pela política iria aumentar.
ABr - Em países desenvolvidos, como Estados Unidos, e também na Europa, observa-se uma maior mobilização da população em eventos de várias naturezas, não só política. Falta isso ao Brasil?Almeida - A maior participação é vista nos Estados Unidos. Ali, a população participa mais do que, por exemplo, na Europa. O país que tem o maior nível de participação não-eleitoral são os Estados Unidos. E não têm uma grande participação eleitoral. O americano participa pouco das eleições, comparado com a Europa, mas participa muito do período entre as eleições. O brasileiro, como os cidadãos dos demais países, participa mais em seus respectivos feriados e datas nacionais, como carnaval e Natal. Nos Estados Unidos, as datas de maior mobilização são Natal e Dia de Ação de Graças.
ABr - O senhor defende que haja uma maior participação do brasileiro no processo político?Almeida - Isso é um processo que só vai vir na medida em que aumentar a escolaridade média da sociedade brasileira. Porque existe uma correlação entre escolaridade e participação, tanto política como cívica. As coisas estão atreladas. Andam juntas.