Dirigente da Confederação Nacional da Agricultura critica ações do MST

15/06/2008 - 23h31

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O objetivo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)  é usar os meios democráticos de diálogo na sociedade para acabar com a própria democracia. Essa é a opinião do presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários e Indígenas da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Leôncio Brito. O deputado Adão Pretto (PT-RS) contesta  a  avaliação do dirigente da entidade e lembra que os ruralistas também já promoveram ocupações de áreas públicas.Em entrevista à Rádio Nacional, Brito afirmou que as potencialidades brasileiras no agronegócio fazem com que temas de interesse nacional, como as questões indígenas, quilombolas e fundiárias, sejam usadas “para trazer insegurança ao campo”. No entanto, ele disse que a sociedade, tanto urbana quanto rural, “está tomando conhecimento que essas ações não estão querendo defender ninguém, estão querendo apenas mudar o regime político, acabar com a democracia, por meio da da própria democracia”.Brito ressaltou que o agronegócio tem colocado o Brasil em uma posição de destaque, apesar de a produção de alimentos ocupar um pequeno espaço no território do país. “A agricultura e a pecuária juntos somam 240 milhões de hectares. Os assentamentos, que são quase 8 mil, têm 77 milhões de hectares. Eu gostaria de saber qual é a produção e a produtividade deles”, disse.Apesar das críticas, Leôncio Brito reconhece que ainda é necessário organizar a regularização fundiária no Brasil. “Não se sabe exatamente na Amazônia, por exemplo, se é realmente 66% de terras públicas e 34% de particulares, o que se sabe é que o agronegócio tem a menor área nos 851 milhões de hectares [do território brasileiro]”, afirmou.Em resposta às afirmações de Brito, o deputado federal Adão Pretto (PT-RS), ligado aos trabalhadores sem-terra, afirmou que os grandes proprietários rurais estão preocupados com a atenção que a sociedade tem dado à falta de alimentos no mundo. “E quem produz os alimentos é a pequena agricultura, são os assentados, é a agricultura familiar. Esse é o povo que produz mais de 70% dos alimentos que o nosso povo consome”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil.“Essa marcha [realizada esta semana em vários pontos do país] foi para isso, para abrir os olhos da sociedade de que o agronegócio, a agricultura patronal é responsável por tudo isso que está ocorrendo”, acrescentou, em referência também à degradação do meio ambiente, além dos preços de alimentos.Questionado sobre a acusação de que os movimentos rurais querem acabar com a democracia, o deputado lembrou da manifestação feita pelos grandes proprietários no ano passado, quando ocuparam a Esplanada dos Ministérios com tratores e bloquearam rodovias. “Não passava ninguém e para eles, na época, isso era uma questão de cidadania, de democracia, que o povo brasileiro tem direito de protestar”.De acordo com Adão Pretto, o que os movimentos sociais, entre eles os que compõem a Via Campesina, querem é que o rumo da política agrícola brasileira mude, com mais valorização da agricultura familiar. Além disso, também pedem que a reforma agrária seja efetivada e que haja melhor distribuição de renda. “Se isso é socialismo, então nós somos socialistas”, ressaltou.