Medalhas, sobrevivência e lições de vida movem atletas paraolímpicos

26/04/2008 - 19h01

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os limites físicosvisíveis do corpo perdem espaço diante dapersistência, do espírito competitivo e do amor peloesporte que os atletas paraolímpicos demonstram. Reunidos emBrasília para a última etapa regional do CircuitoLoterias Caixa Brasil Paraolímpico, eles se preparam para os Jogosde Pequim e revelam em conversas, no intervalo das provas, seremmovidos por algo que vai além da vontade de atingir o lugarmais alto do pódio. “Eu nunca vouesquecer da minha primeira competição internacional. Vium chinês, sem os dois braços, comendo comos pés melhor do que muita gente faz com as mãos”,recordou o nadador carioca André Brasil, 23 anos, que temhipotrofia muscular e é recordista mundial de trêsprovas – 50 m livre, 100 m livre e 100 m borboleta. “O esporteparaolímpico me mostrou que um ser humano tem que ser felizacima de tudo e estamos aqui para provar que qualquer limite pode sersuperável”, acrescentou. André estáentre os atletas paraolímpicos com menor grau de lesãoe já disputava competições com atletasolímpicos. A entrada na nova categoria foi planejada aoassistir pela TV as Paraolimpíadas da Grécia, em 2004, quando viu atletas com problemas físicos semelhantes ao seu competindo.Mas, em 2005, o atleta se decepcionou ao ser vetado pela comissão avaliadora de participar de umacompetição internacional. A volta às competiçõesoficiais demorou sete meses, sendo que nos dois primeiros, em depressão,André ficou longe das piscinas. “Eu me perguntava: seos meus tempos não estão dentro dos grandes nadadoresolímpicos, onde, então, eu me enquadro, se tenho deficiência?”,questionou o nadador. Um ano depois do veto, o atleta conseguiu autorização do Comitê ParaolímpicoInterncional, para competir na categoria, até 2010. Aexpectativa dele é disputar sete provas em Pequim- cincoindividuais e dois revezamentos. A conquista da medalha édefinida como “sonho” e a confiança no trabalho étanta que lhe permite até brincar com a limitaçãofísica provocada pela paralisia infantil: “costumo dizer quemeus passos são mancos, mas firmes.” As histórias de superação são recorrentes entre os atletas paraolimpícos. O sorriso e a simpatiada mineira Letícia Ferreira, nadadora de25 anos, por exemplo, esconde um passado difícil. Num acidenteautomobilístico em 1993, ela ficou tetraplégica etambém perdeu o pai e a mãe. “Sem o acidente, eu nuncaseria atleta”, comentou, ao lembrar ter entrado no esportecompetitivo há apenas dois anos, incentivada por umprofissional de preparação física que conheceuem Uberlândia (MG). Ainda em busca doíndice olímpico para se garantir em Pequim na prova dos100m nado peito, ela minimiza o valor da medalha porenxergar mais importância em outra conquista: “meu sonho éconseguir viver na piscina e sem sair da natação”.Letícia conta ainda ser um desafio para os atletas obterempatrocínios individuais, que lhes permitam uma preparaçãoadequada, sem ter que desempenhar outra atividade. “Édifícil encontrar empresas que acreditam [no retorno que vão ter ao patrocinar um atleta]”. O número devagas da delegação brasileira para a Paraolimpíadade Pequim já está definido: 48 no atletismo e24 na natação. A lista definitiva seráconhecida em junho. No mesmo mês, haverá ainda uma etapa nacional do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico, em Uberlândia. O circuito terá mais uma etapa, em novembro, em Fortaleza. Os 140 atletas com os melhores índices técnicos de cada modalidade, nasetapas regionais, terão direito a hospedagem, alimentaçãoe transporte local.