Morillo Carvalho
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao comentar o papel da imprensa na cobertura de casos como o da menina Isabella Nardoni, morta violentamente aos 5 anos, a coordenadora do Programa de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Leila Paiva, avaliou que a mídia cumpre seu papel de informar, embora considere que o faça de forma direcionada. Para ela, o motivo é a falta de critérios dos setores responsáveis pelas investigações na hora de falar do caso. “A imprensa é um grande aliado, na maioria das vezes, e cumpre seu papel de disponibilizar as informações para a população, mas os outros setores de atendimento e responsáveis pelo procedimento de investigação e responsabilização é que têm que triar quais são os momentos adequados para disponibilizar determinadas informações”, afirmou. Indagada sobre o porquê de casos como o de Isabella receberem mais destaque do que, por exemplo, o do assassinato de Laila Fonseca, aos 9 anos, em Santo Antônio do Descoberto (GO), Leila Paiva disse acreditar que o motivo está no fato de que fatos que ocorrem no eixo Rio-São Paulo sempre receberem cobertura maior. No caso da menina Laila, suspeita-se de que houve abuso sexual antes doassassinato. “Eu acredito que o que ocorre nesse eixo acaba tendo dimensão nacional. Falar de São Paulo é falar de 30% da população do país. Mas é importante fazer um alerta à população que quem vai cuidar da defesa e da responsabilização são os órgãos competentes. Nós precisamos aproveitar esse momento para mostrar que ocorre esse tipo de violência e a importância de denunciar, porque podemos até mesmo salvar crianças, caso a gente não se omita”, alertou. Para a secretária-executiva da Comissão Teotônio Vilela do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (Nevusp) Alexandra Santos, a imprensa precisa descobrir o seu papel e cumpri-lo, sem tomar o lugar que cabe às autoridades de investigação e responsabilização.“É um drama familiar, é chocante, revoltante e que precisa ser monitorado, mas quem tem que fazer esse monitoramento são as autoridades. Há um excesso na cobertura. Sai um laudo pericial, as pessoas são chamadas a depor e é veiculado que elas foram indiciadas”, criticou Alexandra. A secretária-executiva do Nevusp comparou a cobertura do episódio Isabela com a do caso Escola Base, em que professores foram acusados de abusar sexualmente de estudantes com menos de sete anos. Na ocasião, o caso repercutiu tem todo o país e, por fim, ficou constatada a inocência deles. Na análise da especialista, a mídia deve ter cautela porque as peculiaridades do caso Isabella podem levar a excessos.“Tem alguns fatores que se tornam atrativos, como o fato do pai ser o principal suspeito. Mas parece que a desgraça de uns é mais importante que a de outros. Se pegarmos o caso da menina de Abaetetuba ou o da Laila, a repercussão foi muito inferior ao caso Isabella. Cada um tem um papel. A imprensa tem mais um a cumprir, mas não pode tomar o lugar da polícia, do Ministério Público ou do Judiciário”, afirmou Alexandra.