Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A forma de organização da quadrilha de narcotraficantes desarticulada hoje (11) pelaOperação Muralha surpreendeu aPolícia Federal (PF). Em entrevista na sede dasuperintendência da PF, na capital, o delegado de Repressãoa Crimes e Entorpecentes de São Paulo, Carlos EduardoPelegrini, disse que foi a primeira vez que viu uma quadrilha dogênero constituir empresa legalmente. A quadrilha chegou a abrir uma empresa para contrair crédito em bancos. "Foi constituídauma empresa para, unicamente, ter crédito nas instituiçõesfinanceiras, para financiar o tráfico. Isso é algoinédito em nosso país. A Polícia Federal nuncase deparou com uma quadrilha articulada desse nível,profissional especializado, que constituísse uma empresa parafinanciar o tráfico", afirmou.De acordo comPelegrini, um dos responsáveis pela operação, aorganização criminosa tinha uma agência deturismo, legalamente constituída, inscrita na Junta Comerciale na Receita Federal, com a função exclusiva deconseguir crédito nos bancos. Com os recursos obtidos, aquadrilha financiava as operações do tráfico deentorpecentes.A drogas vinham daBolívia, Colômbia, Peru e Paraguai, passavam porconexões em vários estados brasileiros e,posteriormente, eram enviadas por navios que saíam para oexterior pelos portos de Vitória, Rio de Janeiro, Santos (SP),São Francisco do Sul (SC) e Paranaguá (PR).Paratransitar com as drogas no Brasil, sem chamar a atençãodas autoridades, a quadrilha dissolvia os entorpecentes em cachaçaou os misturava a cereais. Para embarcar com as mercadorias nosnavios, membros do grupo cooptavam estivadores para, geralmente ànoite, levar as drogas para dentro das embarcações. Osdestinos mais comuns eram países da Europa e África.De acordo com a polícia, o grupo criminoso eraliderado pelo peruano Rafael Pablos e pelo colombiano EduardoEchevaria. Ambos cumprem pena no presídio de Itaí,cidade do interior do estado de São Paulo. Para exercerem ocomando da quadrilha, os criminosos utilizavam-se, de dentro dopresídio, de telefones celulares. Segundo a PF, já foisolicitada à Justiça a transferência dos doischefes do grupo para alas diferenciadas do presídio, ondedevem ficar em regime especial.Hoje (11), a PolíciaFederal prendeu 17 pessoas acusadas de envolvimento com a quadrilha.As prisões foram efetuadas nos estados de São Paulo,Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Pará.Outros 11 mandados de prisão devem ser cumpridos nos próximosdias. Desde o início da operação, em agosto de2006, 107 pessoas já foram presas.