Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O serralheiro José Silva faz parte do grupo de 30% debrasileiros que não têm suas casas atendidas porserviços de coleta de esgoto. Morador da Estrutural, bairropobre do Distrito Federal - a dez quilômetros de Brasília - ele e outros 40 mil moradores sofremdiariamente com a falta de saneamento, visível nas ruasatravessadas por filetes e poças de esgoto.
“Éum problema sério. Atrapalha até o trabalho da gente;às vezes chega um carro para eu fazer uma solda e eu tenho quedizer que não posso. Porque não posso trabalhar dentroda água”, relata.
“Semsaneamento básico, uma cidade não consegue ir para afrente. Não tem jeito. O comércio, por exemplo, sónão se desenvolve mais por causa disso. Se você vêuma loja arrumada, mas tem uma poça de esgoto na frente delavocê não vai entrar, é difícil para agente”, acrescenta o líder comunitário CarlosRoberto, o Gaúcho.
Em quasetodas as ruas, entre as casas simples, os filetes de águaescura e mau-cheirosa fazem parte da paisagem. Sem tratamento, oesgoto da cidade têm destino certo: o Córrego Cabeceirado Vale, que passa a poucos quilômetros.
Adona-de-casa Kariele Duarte, moradora do bairro há nove anos,disse que não agüenta mais a situação. Ela contaque há alguns anos o quadro não era tãoruim, mas piorou depois que a administração localcomeçou a passar tratores nas ruas e tentar cobrir as poças comcascalho. “Eles fecham as poças em uma rua e a águavem para a outra. Quando chove, fica impossível passar aqui”,conta, enquanto mostra a água acumulada na porta de casa.
“Agente só faz paliativos. A solução só vaivir com o sistema de águas pluviais”, reconhece CarlosRoberto.
Os irmãosAndressa e Felipe Gomes, de 10 e 9 anos, conhecem de perto asdificuldades listadas pelos adultos. “Não dá parabrincar aqui, toda hora o pé fica sujo da água doesgoto”, lamenta Felipe. A irmã conta que na últimatemporada de chuvas, chegou a ficar com lama na altura dos joelhos.“Minha mãe não deixa a gente ficar muito na rua porcausa disso. Dizem que a água pode dar doença também”.
ACompanhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) estimaque sejam necessários R$ 57 milhões para implantar redede esgotos na Estrutural. O dinheiro, segundo o governo local,devem ser liberado nos próximos meses. Os projetos técnicosjá estão concluídos e a licitaçãopara as obras está em andamento, de acordo com a Caesb.
“Éa realização de um sonho você saber que vai teráguas pluviais e rede de esgotos, porque com isso vem toda ainfra-estrutura da cidade”, disse o líder comunitário.