Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um dos 40 réus do caso que ficou conhecido como mensalão, o deputado federal Paulo Rocha (PT-PA) garante que não tinha conhecimento de que o dinheiro usado para pagar dívidas de campanha do diretório estadual do partido viesse do empresário Marcos Valério de Souza.“Não tinha conhecimento de absolutamente nada. Não sabia de onde vinham os recursos. Como presidente do partido no Pará, busquei o diretório nacional, indo ao local certo, a tesouraria, buscando ajuda para saldar essa dívida”, declarou Rocha ao depor na 10ª Vara Criminal da Justiça Federal, em Brasília. O deputado é acusado de lavagem de dinheiro.
Rocha disse ter procurado o então tesoureiro do partido Delúbio Soares a fim de obter R$ 620 mil. O dinheiro serviria para saldar dívidas com quatro empresas que teriam produzido e fornecido material de campanha. Segundo o deputado, na ocasião, Delúbio teria respondido que o partido não dispunha de recursos, mas que estava negociando empréstimos bancários e que iria repassar o valor solicitado tão logo fosse possível.
Rocha disse ter sido procurado por Marcos Valério pouco tempo depois. O deputado afirmou que já conhecia o empresário, desde a época em que o publicitário havia sido contratado para realizar a campanha do então candidato à presidência da Câmara, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP). Em um primeiro encontro, Valério disse que procurava o parlamentar por indicação de Delúbio.
Com base na relação prévia entre o empresário e o diretório nacional do PT, Rocha disse não ter estranhado que Valério intermediasse os repasses de dinheiro. O deputado alegou que acreditava que o dinheiro vinha do PT nacional, mas não soube explicar à juíza Maria de Fátima Costa porque a Executiva do partido não transferiu os recursos diretamente para as contas do diretório estadual.
O deputado voltou a explicar que todo o dinheiro repassado ao PT do Pará foi movimentado por sua secretária, Anita Leocádia, a quem ele próprio teria dito que os recursos vinham da Executiva do partido. Segundo Rocha, Leocádia recebia os valores e os depositava integralmente na conta das empresas credoras. Durante o depoimento, Rocha fez questão de apresentar os comprovantes de depósito que, segundo ele, demonstram que ele jamais ficou com qualquer quantia para uso pessoal.
“Nunca [recebi dinheiro]. Até porque, não tinha nenhuma dívida pessoal ou da minha [própria] campanha”, afirmou, explicando que além dos R$ 620 mil repassados ao PT-PA, Valério teria intermediado o repasse de outros R$ 300 mil para o PSB. “Minhas relações no episódio foram exclusivamente como dirigente do PT estadual”.
Desde novembro, os 40 acusados respondem como réus, após denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Eles são são acusados de participar de esquema de compra de votos em troca deapoio político. Entre os réus estão os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken(Comunicação Institucional), o empresário Marcos Valério de Souza e opublicitário Duda Mendonça, além de deputados e ex-deputados.
A existência de um esquema que seria conhecido como mensalão foidenunciada pelo ex-deputado Roberto Jefferson em2005. A denúncia contra os 40 acusados foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) peloprocurador-geral em 2006, acatada pelo tribunal emagosto deste ano e convertida em ação penal em 12 de novembro.