Irene Lôbo
Enviada especial
Abaetetuba (Pará) - Na seqüência da entrevista concedida à Agência Brasil, o prefeito de Abaetetuba, Luiz Lopes (PT) afirma que o município trabalha para combater a exploração sexual de menores. Segundo ele, a prostituição infantil e o tráfico de drogas decorrem da falta de renda e de emprego para a população da cidade, que cresceu nos últimos anos.Em relação ao caso da jovem de 15 anos presa numa cela com homens, o prefeito criticou a família da garota. Segundo Lopes, os pais da adolescente a deixaram abandonada por três anos na cidade. Ele, no entanto, admitiu que a prisão de mulheres na mesma delegacia que homens é uma situação comum no município e não causa espanto na população local.Agência Brasil: Combater a prostituição infantil é um dos desafios do município?Luiz Lopes: É grande a quantidade de meninas nas ruas de Abaetetuba. Há denúncias sobre crianças em festas [de adultos], e o Conselho Tutelar há muitos anos vem tomando providências. Agora é muito fácil atirar pedras, mas amanhã só vão estar aqui a prefeitura, a diocese e as associações evangélicas, todo o mundo depois tira o corpo fora. Precisamos nos unir. São os nossos filhos que estão correndo esse risco.ABr: Alguma observação a mais sobre o caso?Lopes: A gente entrou na política com a vontade, com o sonho de combater isso [a prostituição infantil] e, de repente, nos colocam na parede. Vamos ver se as pessoas que eles vão colocar para lidar com esse problema têm o know how [conhecimento de como fazer], uma história de luta, de construção de uma cidadania. Porque é muito fácil arrasar com as pessoas e não ver toda uma luta, uma vida com dignidade.O Conselho Tutelar se desespera porque perde as forças. Quando não tem para quem gritar, diz que está abandonado e acho que não pode ser assim. É dizer que estamos juntos, unidos, tentando uma estrutura, mas é complexo mesmo. Não temos geração de renda. Se você for pegar a prefeitura de Abaetetuba, vai ver que a assistência social é enorme.ABr: Existe muito narcotráfico no município? Abaetetuba é uma rota do tráfico de drogas que vêm da Guiana e do Suriname?Lopes: A nossa maior dificuldade é porque Abaetetuba é uma região bem localizada. A alimentação é barata, então a maior dificuldade é porque o Complexo Albrás [empresa produtora de alumínio] veio com os trabalhadores da construção civil e, após essas obras, o pessoal veio morar em Abaetetuba. Então, a população nossa é muito grande, de 132 mil habitantes. Aí acontecem os problemas sociais os mais diferentes possíveis, de habitação, violência, prostituição. É a falta de trabalho e de renda que acarreta isso para nós.ABr: Então o narcotráfico é uma conseqüência da falta de trabalho e renda?Lopes: Justamente, a deficiência de renda leva ao narcotráfico.ABr: E o problema das drogas, é muito sério?Lopes: As drogas são um desafio nosso. Abaetetuba está "pagando o pato" neste caso, mas observem bem, cadê a mãe e o pai dessa menina? Nós, na verdade, não sabíamos que estava acontecendo isso, agora segundo o pessoal é fato que de vez em quando colocam mulheres nessa delegacia, é um fato comum que não causa grande espanto na cidade. A menina tinha acesso livre a visitas na delegacia. Quando estourou a coisa, ficou difícil explicar. Nós assumimos a responsabilidade, mas a família também tem que nos ajudar, porque tirou o corpo fora há muitos anos. Essa menina está abandonada em Abaetetuba há uns três anos, pelas informações que eu tenho.ABr: O desemprego na população é alto?Lopes: Nosso desemprego é muito grande. A população de Abaetetuba é jovem, e o emprego e renda são difíceis. O município está inchado mesmo. Nós estamos na luta há anos para a instalação de uma escola técnica no nosso município. Não temos escola técnica, não temos escola agrícola, mas temos um Sindicato dos Trabalhadores Rurais muito empenhado na agricultura familiar, tem a colônia dos pescadores muito empenhada na pesca artesanal. Então é um rumo novo de ter condições, de solucionar isso.