Indústrias e centrais sindicais criticam manutenção dos juros básicos da economia

17/10/2007 - 21h08

Wellton Máximo e Isabela Vieira
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - A manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 11,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central foi mal recebida por representantes do setor produtivo da economia. As entidades ligadas à indústria e aos trabalhadores afirmaram que a primeira suspensão da queda da Selic desde setembro de 2005 terá reflexos negativos sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).Em nota oficial, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, avaliou que, apesar dos impactos inflacionários, não havia motivos para a manutenção da Selic. “O aumento da inflação nos últimos meses ocorreu por pressões pontuais e não de forma disseminada”, informou o comunicado. Para a entidade, o cumprimento da meta de inflação de 4,5% para este ano não estava ameaçado.Segundo a CNI, o nível atual de juros é ainda mais danoso à indústria por causa da elevação contínua da carga tributária e porque intensificará a entrada de capitais estrangeiros. Os recursos externos, alega a entidade, tornará o dólar ainda mais barato e prejudicará as exportações do país.A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também lamentou a interrupção da queda da Selic. Para a entidade, a seqüência de cortes promovida há mais de dois anos impedia a valorização excessiva do real. “Mais uma vez, nos decepcionamos com a falta de entendimento da realidade demonstrada pelo Copom”, expressou o comunicado. “Isso custa caro ao setor produtivo e à sociedade brasileira.”A decisão do Banco Central desagradou às centrais sindicais. Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique Santos, considerou conservadora a postura do Banco Central. Para ele, o Banco Central poderia ter reduzido a taxa em pelo menos 0,25 ponto percentual, como ocorreu na última reunião. “Apesar das últimas reduções, continuamos com uma política econômica que não facilita o crescimento econômico e não contribui para a criação de empregos”, disse Henrique.Para Artur Henrique, o Copom não deve ter como principal instrumento de política econômica apenas o controle da inflação. "Para alcançar taxas de crescimento econômico sustentável, de 5% ou 6% ao ano, o Banco Central precisa levar em conta outras variáveis”, comentou. “Ninguém quer a volta da inflação, mas não podemos ter uma política econômica que só usa os juros para manter o valor do dinheiro.”Em nota oficial, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, classificou a manutenção da Selic de “nefasta” e afirmou que a medida beneficiará apenas os especuladores. “O Copom frustra os trabalhadores que tinham a expectativa de um grande corte. Mantendo os juros básicos num patamar proibitivo, o governo sinaliza com um cenário impróprio para o setor produtivo, gerador de novos postos de trabalho”, destacou o texto.