Fundação alerta para efeitos da expansão da agroenergia nos ecossistemas brasileiros

25/03/2007 - 17h07

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A legislação brasileira não é suficiente para garantir a preservação dos ecossistemas, diante da expansão das plantações destinadas à produção de agroenergia. A afirmação é do presidente da Fundação Brasileira pelo Desenvolvimento Sustentável, Israel Klabin, para quem também falta um monitoramento adequado sobre áreas frágeis. Ele citou o sul do estado de Mato Grosso, "que foi devastado pela soja, além de perigos que ocorrem com a pressão da agricultura sobre a Amazônia e, eventualmente, sobre o Pantanal". A partir de amanhã (26), a Fundação e a instituição ambientalista Conservation International realizam no Rio seminário para avaliar o tema. O encontro será na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde cerca de 160 especialistas discutirão a necessidade de regulamentação e a elaboração de estudo detalhado sobre "os impactos ambientais dessa nova fronteira de crescimento", segundo Klabin. Entre esses impactos, ele enumerou os que incidirão sobre os ecossistemas frágeis, como a Amazônia e o Pantanal, ou  sobre os lençóis freáticos (água subterrânea) e aqüíferos (unidades geológicas saturadas que fornecem água a poços e nascentes) no Sul, no Oeste e no cerrado. Klabin prevê também impacto com relação às matas ciliares (porções de matas próximas a rios), que tenderão a desaparecer. “Enfim, nós temos várias preocupações que gostaríamos de expor durante esse seminário para que, eventualmente, elas se transformem em políticas públicas”, disse. Além dos impactos ambientais, ele alertou para a possibilidade de impactos sociais, "o risco de o Brasil transferir para o campo os problemas e os conflitos urbanos". Nesse contexto, sugeriu, "a agricultura familiar poderia desempenhar um importante papel". Klabin disse que a entidade pretende aprofundar estudos no chamado arco de desflorestamento da Amazônia: "Nós temos nessa fronteira uma área já devastada equivalente à da França, mais a Bélgica, mais a Holanda. Essa área poderia ser recuperada por meio de unidades agroflorestais, onde entrassem palmáceas, agricultura de subsistência e um sistema cooperativado. Se for adequadamente gerida, pode render um excelente resultado para o país". O entrave tecnológico que ainda impede o aproveitamento da palha da cana-de-açúcar para a produção de álcool, previu o presidente da Fundação, será resolvido nos próximos anos, com o desenvolvimento da técnica de hidrólise enzimática celulósica (produção de etanol a partir dacelulose). "A vantagem, em termos ambientais, pode ser a eliminação das queimadas", argumentou.