Adolescente morta com arma brasileira virou símbolo de ativismo contra a violência

25/03/2007 - 11h29

Vítor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A data é 25 de março de 2003, exatamente quatro anos atrás. Um grupo de cinco homens executa, conforme o planejado, um assalto à bilheteria da Estação do Metrô São Francisco Xavier, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Enquanto três deles, armados, rendem os funcionários e levam R$ 600 e vales-transportes, outros dois, também armados, dão cobertura para o assalto. Durante a ação, descobrem um policial do Distrito Federal, à paisana, na proximidade da bilheteria, e atiram contra ele, deixando-o ferido.O que acontece em seguida é confuso e até hoje não foi completamente esclarecido pela Justiça. Os ladrões tentam fugir com o dinheiro roubado, mas esbarram com outro policial à paisana, o que resulta em um novo tiroteio. Policial e ladrões trocam tiros justamente no momento em que uma adolescente de 14 anos desce a escada para pegar o metrô.A bala a atinge na altura do peito. Ela sobe novamente as escadas, procurando ajuda, e é levada a um hospital da região. Mas não resiste aos ferimentos. Essa é a história de Gabriela Prado Maia Ribeiro, morta por uma bala perdida.Os assaltantes foram condenados, mas até hoje a Justiça não é capaz de afirmar quem realmente matou Gabriela: se foram os ladrões ou o policial que tentou impedir o roubo. O caso acabou arquivado pela Justiça fluminense em 2005.Somente a arma que matou Gabriela foi identificada. Um laudo da Polícia Civil comprovou, quase um ano depois do assassinato, que a jovem foi morta com a arma do policial, roubada pelos assaltantes durante a ação: uma pistola da marca Taurus, calibre ponto 40, de fabricação brasileira. A arma só viria a ser recuperada pela polícia nove meses depois de roubada.O assassinato da adolescente transformou seus pais, Carlos Santiago e Cleyde Prado, em dois ativistas contra a violência no Brasil. Depois de criarem o movimento “Gabriela Sou da Paz”, os dois passaram a defender mudanças na legislação brasileira. Depois de conseguirem mais de 1,2 milhão de assinaturas, eles conseguiram dar entrada a um projeto de emenda popular, para promover alterações no código penal.Apesar da dor da perda de sua única filha, o psicólogo Carlos Santiago não pede o fim da indústria de armas no Brasil e sua emenda sequer cita o porte, comércio ou fabricação de armamento. Apesar disso, ele pede um controle maior por parte das autoridades. “É importante que haja uma fiscalização efetiva, porque a facilidade com que a ‘bandidagem’ tem acesso a armas ilegais, fabricadas dentro do Brasil, é muito grande”, diz Santiago.Os pais de Gabriela mantêm viva a memória da jovem, procurando ajudar familiares de vítimas de balas perdidas, de outros tipos de assassinato, de seqüestro e de violência como um todo. “Hoje ainda me assusto de estar há quatro anos sem ter a presença física da Gabriela. Nem eu acredito em tudo o que aconteceu, apesar de tudo isso que eu faça seja em memória dela. As pessoas perguntam: ‘a ficha caiu’. Isso é algo difícil de cair”, conta Cleyde.