Hidrelétricas e obras de infra-estrutura ameaçam Bacia do Prata, aponta WWF

22/03/2007 - 23h20

Wellton Máximo*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Com 3,2 milhões de quilômetros quadrados distribuídos em quatro países, Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, a Bacia do Rio da Prata está em perigo por causa de represas e hidrelétricas. Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Água, a organização não-governamental WWF divulgou relatório no qual classifica a bacia, formada pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, como uma das dez mais ameaçadas do mundo.Ao todo, a bacia tem 27 grandes represas com mais de 60 metros de altura e com capacidade superior a 100 megawatts de energia cada. Segundo a WWF, essas obras de infra-estrutura provocam a fragmentação dos rios da região. Coordenador do Programa Água para a Vida da WWF–Brasil, o geógrafo Samuel Barreto afirma que as usinas e as obras alteram completamente o funcionamento e a dinâmica dos ecossistemas associados aos rios.O ecologista diz que essas obras trazem impactos tanto ambientais como sociais. “Além de mudar o ciclo da pesca, por exemplo, as represas fazem muitas pessoas mudar de casa, na maioria das vezes sob conflitos”, ressalta Barreto.O geógrafo afirma que as hidrelétricas também provocam o risco de desequilíbrio no balanço hídrico e de assoreamento (acúmulo de terra) nos lagos das usinas. “Como os sedimentos carregados pelos rios ficam retidos no fundo das represas, com o tempo o mar pode avançar sobre a foz do Rio da Prata, como já ocorre com o São Francisco”, alerta.Segundo o relatório, outra ameaça à Bacia do Prata está no projeto de construção da hidrovia de 3.442 quilômetros que liga Cáceres (MT) ao porto de Nueva Palmira, no Uruguai. Conforme o documento, a obra vai aumentar a drenagem no Pantanal Mato-Grossense, o que diminuirá o volume de água na região e reduzir o nível do Rio Paraguai em até 25 centímetros.O relatório provocou reações no governo, que considerou “precipitadas” as conclusões da WWF. Diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Benedito Braga afirma que a própria construção das represas é amplamente debatida com a sociedade. “Qualquer projeto só pode sair do papel após ser aprovado pelo Comitê de Bacia Hidrográfica”, afirma. Segundo ele, esse avanço só foi possível por causa da Lei das Águas, que completou dez anos em 2007.Diretor de Coordenação Hidrelétrica de Itaipu, maior hidrelétrica em operação no mundo e que está no Rio Paraná, Nelton Friedrich afirma que a usina trouxe benefícios ao fornecer energia limpa ao país. “Uma hidrelétrica pode ter um impacto na fase de construção, mas produz energia renovável e devolve a água que usa”, argumenta.Friedrich também destacou que a hidrelétrica tem programas de recuperação ambiental que servem de exemplo. “A usina de Itaipu contribui para a recuperação da bacia e, ao contrário de vilã, pode ser uma aliada”, ressalta. Com capacidade para produzir cerca de 12 mil megawatts, a hidrelétrica de Itaipu será superada em 2009 pela Represa de Três Gargantas, na China, que terá capacidade para 18,9 mil megawatts.O geógrafo Samuel Barreto, da WWF, reconhece que a energia das hidrelétricas é limpa e traz menos efeitos negativos que a produzida pela queima do carvão e do óleo combustível. Ele, no entanto, alega que a solução para descarregar a produção energética na Bacia do Prata está na diversificação das fontes de energia do Brasil.Para o próximo leilão de energia nova para 2010, marcado para junho, estão cadastradas 11 usinas de energia eólica (movidas a vento) cuja produção somada chegará a 885 megawatts. O ambientalista elogia o esforço dos investidores, mas ressalta que é preciso fazer mais. “O setor precisa abrir a carteira e apostar não só na energia eólica como na energia solar”, ressalta.