Pesquisadora defende boicote para combater descaso das empresas com consumidor

14/03/2007 - 20h42

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os consumidores brasileiros ainda não estão acostumados a utilizar umapoderosa arma para fazer valer reivindicações a empresas: o boicote.Essa é a avaliação da pesquisadora da Fundação de Amparo à Pesquisa doEstado de São Paulo, Marta Caputo, mestranda em comunicação pelaUniversidade Estadual Paulista (Unesp). Segundo ela, o boicote adeterminados produtos pode fazer com que as empresas prestem maisatenção às demandas dos consumidores.“Pode ser que o resultado de um boicote não seja imediatamenteconstatado nos caixas da empresa, mas a sua reputação sofre arranhõessignificativos. Em um momento em que as empresas buscam ter umaimagem compatível com a responsabilidade social, os prejuízos podem terum peso que comprometa a imagem no mercado”, avalia. Para Caputo, mesmoque em um primeiro momento possa parecer que essas ações sejaminsignificantes, elas são cada vez mais necessárias diante do grandedescaso das grandes empresas em relação ao consumidor.Ela diz que, no Brasil, ainda não há uma consciência coletiva emrelação aos direitos dos consumidores. “Nós saímos nus nas ruas duranteo carnaval, mas somos incapazes de nos mobilizar para sair às ruas comas nossas reivindicações, com exceção de alguns movimentos bemorganizados do Brasil”, lamenta.Marta Caputo lembra que a história do boicote é antiga. Segundo ela, aprimeira campanha de boicotes foi registrada em 1930, quando o líderindiano Mohandas "Mahatma" Ghandi organizou a Marcha do Sal. Ele conclamouas pessoasa boicotar o produto industrializado e extrair o próprio sal do mar, emvez de pagar os altos impostos queincidiam sobre o produto. Caputo também registra como um dos primeirosatos de boicote organizado a luta do ativista negro norte-americanoMartin Luther King, que liderou uma campanhade boicote aos ônibus em Montgomery (Alabama, Estados Unidos), contra osistema de segregação racial no transporte público da cidade.Segundo a pesquisadora, os boicotes se tornaram cada vez mais populares apartir da década de 90. “Principalmente após os ataques da Torres Gêmeas ea ofensiva militar dos EUA ao Iraque, a pratica dos boicotes àsmultinacionais que apoiaram a candidatura de George W. Bush se disseminourapidamente por meio da internet. Especialmente contra as posturas assumidas por essegoverno, com o pretexto de combater o terrorismo”, analisa.