Dom Tomás Balduíno pede recuperação “de verdade” para Rio São Francisco

12/03/2007 - 23h13

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os problemas de distribuição e abastecimento de água no Semi-Árido brasileiro, que afetam cerca de 9 milhões de pessoas, podem ser evitados com uma “verdadeira” revitalização do Rio São Francisco. Dessa forma, a transposição do rio não seria necessária. A avaliação é do conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduíno. Ele esteve em uma entrevista à imprensa nesta segunda feira (12) no acampamento Pela Vida do Rio São Francisco e do Nordeste Contra a Transposição, em Brasília.Balduíno disse que o projeto de recuperação do rio proposta pelo governo federal é uma “tapeação” e só servirá para antecipar as obras da transposição. O projeto de transposição do rio pretende construir dois canais, norte e leste, para levar águas do São Francisco em direção ao chamado Nordeste Setentrional. Os canais passariam pelos municípios pernambucanos de Petrolândia e Cabrobó.Contudo, de acordo com dom Tomás Balduíno, o projeto vai beneficiar apenas a “indústria da seca”. “As empreiteiras vão ganhar com isso. Como não têm mais o que fazer em termos de açude, já esgotou a capacidade de fazer açudes no nordeste, descobriram a mina de ouro de bilhões que é a transposição”.Para o representante da igreja católica propostas alternativas poderiam recuperar o rio e levar água a população que realmente precisa. Entre elas, cita o Atlas da Agência Nacional de Águas, publicação que reúne 530 propostas de obras de armazenamento, manejo e distribuição de águas na região. “As obras propostas pela Ana vão atingir nove estados do nordeste enquanto a transposição está prevista para apenas quatro”, destacou.O sociólogo Rubem Siqueira, que está no acampamento em Brasília, disse que com “a verdadeira” recuperação do rio existirá água para consumo humano e desenvolvimento sustentável do nordeste. “A transposição é para irrigação, para produção e exportação de frutas e camarão. Não é água para o que dizem que é”, afirma. Cerca de 500 militantes estão acampados na capital federal. Eles querem pressionar o governo para o fim do projeto de transposição do rio Velho Chico. Até o final da semana vão se reunir com representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Amanhã está marcada uma audiência com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva e outra com procuradores do Ministério Público Federal.