Leia a íntegra do Programa Café com o Presidente

12/03/2007 - 8h51

Agência Brasil

Brasília - Apresentador (Luiz Fara Monteiro): Olá, você, em todo o Brasil.Começa agora o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula.Como vai, presidente?Presidente: Bom dia, Luiz. Bom dia, ouvintes. Tudo bem,Luiz.Apresentador: Presidente, qual foi o resultado desse seuencontro com o presidente dos Estados Unidos, George Bush, na última semana?Essa parceria na área de biocombustíveis pode dar resultados econômicos a curtoprazo para o Brasil ?Presidente: Quando se trata de comércio exterior,quando se trata de parceria, quando se trata de investimento conjunto empesquisa, há um processo de maturação. Nesse processo de maturação, é que nósacreditamos que Estados Unidos e Brasil podem fazer uma parceria que possamudar a lógica da política energética na área de combustíveis no século 21. Oque é que acontece na verdade? Os Estados Unidos são grandes produtores deálcool e produzem o álcool de milho. O álcool de milho é mais caro do que oálcool de cana-de-açúcar. Só para ter uma idéia, o Brasil precisa investir US$0,28 para produzir um litro de álcool, e os Estados Unidos precisam investir US$0,45 para produzir um litro de álcool de milho. O mais importante é que nósestamos criando um fórum internacional, que envolve os Estados Unidos, Brasil,Índia, China, África do Sul e a União Européia. Nós estamos convencidos de queessa parceria passa por investimentos dos países mais ricos em países maispobres para que eles possam produzir também o álcool ou produzir obiocombustível, o biodiesel.Apresentador: Esse é o Café com o Presidente, o programa derádio do presidente Lula. Presidente, em relação a tornar o álcool como umacommodity, uma espécie de mercadoria que tem o preço reguladointernacionalmente, o que isso favorece o Brasil?Presidente: Antes de falar da commodity, deixa eu dizeruma coisa ainda da questão comercial, para que o nosso ouvinte entendaperfeitamente bem. O que é que os países em via de desenvolvimento estãodesejando neste momento? Eles estão exigindo que a Europa permita o acesso dosprodutos agrícolas ao mercado europeu, essa é uma coisa que nós queremos. Aoutra coisa que nós queremos é que os Estados Unidos diminuam os subsídios queeles dão para seus agricultores. E o que eles querem de nós? Quando eu digonós é Brasil, China, Índia, África do Sul, Argentina, México, o que é que elesquerem de nós? Que a gente também faça concessões em produtos industriais e nosetor de serviços. Ou seja, nós estamos dispostos a fazer a nossa parte, levando emconta a proporcionalidade e a riqueza de cada país porque, no caso daagricultura, enquanto no Brasil nós ainda temos 25% de gente trabalhando nocampo, e na África há países que têm 70%, na França você tem 2%. Significaque o peso agrícola para os franceses é muito menor do que o peso para um paísafricano que tem uma larga escala de mão-de-obra trabalhando no campo. Essetripé, na verdade, esse triângulo que estamos montando, cada um faz um pouco deconcessão, é que vai garantir o acordo que todos nós estamos torcendo para queele aconteça, porque isso seria a salvação dos países mais pobres. Com relaçãoao álcool se transformar em commodity, eu acho que é uma questão irreversível.Na medida em que o álcool começa a ganhar corpo, começa a ser misturado nagasolina e os países do mundo inteiro começam a se preocupar em diminuir aemissão de gás carbônico e a mistura diminui a emissão, isso significa o quê?Isso significa que logo, logo, o álcool vai ter um preço internacional,portanto, vai ser commodity. Nós temos de ter mais responsabilidade, porque nóstemos que, não só oferecer o álcool, mas garantir o suprimento do mercadobrasileiro e do mercado internacional. Por isso, nós precisamos plantar muitomais cana. É preciso dinamizar a cultura do álcool por outros países, levando emconta que nós temos de preservar duas coisas. Primeiro, preservar as nossasmatas e a nossa fauna, ou seja, nós não queremos plantar cana-de-açúcar para produzirálcool e nem plantar oleaginosas para produzir biodiesel na Amazônia, porexemplo, ou no Pantanal. Nós queremos utilizar as áreas já degradadas para quea gente possa plantar. A segunda coisa, também não compete com o alimento,porque o problema do alimento hoje no mundo não é a falta de terra. O problemaé que tem uma parte da população muito pobre que não pode consumir. Então, eu estouconvencido, Luiz, de que nós estamos perto de um grande acordo. Eu estouconvencido de que Estados Unidos e Brasil se tiverem disposição de cumprir oprotocolo que nós assinamos, nós estaremos dando uma virada na matrizenergética mundial, na área de combustível, para os próximos 20 ou 30 anos.Apresentador: Pois é, o senhor vai aos Estados Unidos nofinal do mês. Qual vai ser a pauta desse encontro? Etanol e biodiesel vãovoltar a ser discutidos nessa conversa?Presidente: Sim, o etanol, o biodiesel, a relaçãoBrasil-Estados Unidos, porque nós temos de levar em conta que os EstadosUnidos continuam sendo nosso principal parceiro individual, do ponto de vistado comércio, e é o maior investidor individual no Brasil. Portanto, nós temosuma relação histórica. Queremos mantê-la, queremos aprimorá-la, isso sem quenós abdiquemos do nosso compromisso maior, que é todo o processo defortalecimento do Mercosul, a constituição da Comunidade Sul-Americana deNações e o processo de integração que estamos fazendo.Apresentador: OK. Obrigado, presidente. Até o nosso próximoprograma.Presidente: Até o próximo programa, Luiz. E, mais umavez, obrigado aos ouvintes.Apresentador: Você pode acessar o Café com oPresidente também na internet em www. radiobras.gov.br. Até a próximasegunda-feira com mais um.