José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os empresários ligados à industrialização e comércio do trigo querem medidas do governo federal contra os subsídios dados pelo governo argentino aos produtores de trigo e fabricantes de farinha daquele país. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Francisco Samuel Hosken, o setor vive uma série crise devido ao que chamou de “afronta da política econômica argentina em relação ao Brasil”. Ele prevê uma "quebradeira" em toda a cadeia produtiva nacional, caso o governo não reaja.Na tarde de hoje (24), Hosken e empresários do setor foram recebidos no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) pelo ministro Luiz Carlos Guedes Pinto. Eles reclamaram do tratamento “generoso” dado aos vizinhos no mercado de trigo local. “É uma atitude criminosa contra o Brasil. Não podemos ficar reféns da indústria argentina, que é subsidiada pelo governo. Nós só queremos igualdade”, disse.De acordo com Hosken, as normas do Mercosul não estão sendo respeitadas. “O Brasil paga 20% de imposto na exportação da farinha de trigo, e os argentinos pagam apenas 10%. Na semana passada, eles reduziram o imposto para a mistura de trigo (farinha especial para a produção de biscoito e macarrão), que caiu de 15% para 10%. Ou seja, eles querem ampliar suas exportações para o mercado brasileiro, e nossa indústria não tem como concorrer.”Além disso, prosseguiu Hosken, o governo argentino congelou o preço interno da tonelagem de trigo em US$ 120, enquanto no Brasil o valor é de US$ 223. “O produtor nacional está tendo que concorrer com uma farinha feita com um grão de trigo barato, e que ainda paga menos na hora de exportar. Como é que vamos ficar?”, questionou. “Os argentinos querem tomar de vez o mercado brasileiro da farinha de trigo.”Para Hosken, o governo brasileiro tem que reagir. “Nós pedimos que seja aplicada uma medida compensatória que diminua a diferença que o governo argentino dá à sua indústria e ao seu produtor. Seria um imposto de importação de 30% da farinha e de 36% da mistura do trigo quando entrarem em território brasileiro”, frisou. Em seguida, ele alertou para uma possível ampliação da crise do setor no país. Alegou que alguns moinhos estão fechando, e que as grandes empresas vão preferir se deslocar para o mercado vizinho, enquanto o pequeno industrial irá importar o produto mais barato, em vez de comprá-lo aqui. “Nós estamos alertando que não vamos comprar mais trigo, vamos importar farinha. A indústria fecha, teremos mais desemprego e menos pagamento de impostos”, resumiu. E desabafou: “O Mercosul só funciona a favor deles (argentinos). Para eles, não existem regras. As regras só valem para nós”.