Fórum Econômico de Davos foi obrigado a aceitar agenda da sociedade, avalia membro do Fórum Social Mundial

24/01/2007 - 11h55

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Durante décadas, o Fórum Econômico Mundial reuniu em Davos,na Suíça, mega-empresários e chefes de Estado para discussões sobre ações conjuntaspara resolver problemas econômicos do mundo – ou, de acordo com seus críticos,simplesmente fechar negócios e aumentar o lucro. Há alguns anos, entretanto, pautasda agenda social mundial como aquecimento global, pobreza e os males daglobalização entraram na discussão.“O fato de eles admitirem a agenda social deve ser visto,além de um ato hipócrita, como um reconhecimento de que essa agenda social estáse impondo na sociedade”, afirma Antonio Martins, integrante do Conselho Internacionaldo Fórum Social Mundial e membro do Attac-Brasil.Para o jornalista argentino Sergio Ferrari, radicado naSuíça, os temas sociais são uma tentativa do fórum econômico de resgatarcredibilidade junto à comunidade internacional. “Os temas sociais são, de certaforma, um pretexto, uma forma de amenizar a crítica de amplos setores dasociedade civil mundial, que acusam Davos de indiferença”, opina.“Davos trata dos temas sociais da mesma forma que um médicotrata os sintomas de um paciente com câncer terminal. Trata de aspectossuperficiais sem aceitar as causas reais de fundo e a responsabilidade do atualmodelo econômico hegemônico na inviabilidade social e ecológica do planetaTerra”, critica Ferrari.Embora não se deva esperar decisões ou um plano de ações conjuntasdos participantes do Fórum Econômico Mundial, uma vez que trata-se apenas de umespaço para debate de idéias, o coordenador do Curso de Diplomacia Econômica daUnicamp, Mário Ferreira Presser, acha positiva a entrada em pauta de temassociais. “Deve se reconhecer que eles estão mais sóbrios na sua avaliação sobrea globalização”, afirma.O cientista político Ricardo Caldas, professor do Institutode Ciência Política da Universidade de Brasília, acredita que a agenda de Davosmostra que os empresários estão preocupados com os efeitos das mudançasglobais. “As grandes corporações vão continuar atuando como sempre atuaram,procurando aumentar sua participação em suas áreas de atuação, mas maispreocupados com responsabilidade social e meio ambiente, mostrando que estãoinseridos na sociedade”, avalia.“Prova disso é que para ter ações negociadas naBovespa e mesmo em alguns pregões da Bolsa de Nova Iorque é preciso apresentaruma lista de atuações na área social”, enfatiza.