Novo presidente do Equador ergue espada de Bolívar e diz que "revolução cidadã" não será detida

15/01/2007 - 20h22

Da Agência Telam
Quito - O novo presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou na tarde de hoje (15) que assinou decreto convocando consulta popular para o próximo 18 de março, a fim de decidir sobre a formação de uma Assembléia Constituinte para reformar a Constituição do Equador.O presidente fez o anúncio minutos antes de começar a tomar o juramento dos ministros de seu gabinete, em ato que se realizou no Monumento à Metade do Mundo, a poucos quilômetros de Quito.A convocatória foi feita por meio do decreto 002 do novo governo e contém a pergunta a que deverão responder com "sim" ou "não" os equatorianos: "Você aprova que se convoque uma Assembléia Constituinte com plenos poderes para que transforme o marco institucional do Estado e elabore uma nova Constituição?".Mãos suplicantes, corpos finos, sofridos e de mãos atadas, pintados por Oswaldo Guayasamin, foram o imponente marco da cerimônia de posse de Correa, que se realizou na Assembléia Nacional. Os murais do artista plástico, amigo pessoal dos mais importantes intelectuais e estadistas do mundo progressista, indicam qual será o marco político, econômico e social que Correa deverá enfrentar durante seu governo.Longe de ignorar isso, Correa assegurou que "a pátria já é de todos e à revolução cidadã ninguém poderá deter". Com um falar pausado, mas enfatizando as idéias com força, Correa lançou um discurso em que detalhou os principais eixos do que será seu governo, que denominou revolucionário, bolivariano e alfarista, em referência ao general Eloy Alfaro, que, através de uma revolução em 1905, transformou o Equador.O salão principal da Assembléia Nacional estava abarrotado tanto por convidados especiais como por futuros funcionários e atuais legisladores. Ali, Correa assinalou que, a partir de agora, "vamos voltar a ter pátria através da revolução cidadã com a qual mudaremos o sistema perverso que destruiu nosso país"."Volta o trabalho, a justiça e começaremos a escrever uma nova história que começou no dia 26 de novembro (o dia em que triunfou eleitoralmente). A luta recém começa", disse Correa, provocando a primeira das mais de duas dezenas de salvas de palmas que interromperam seu primeiro discurso como presidente.O primeiro eixo do governo que conduzirá a partir de hoje foi denominado por Correa como o da revolução constitucional. "Nossa classe dirigente fracassou, os representantes não entendem que eles devem responder aos cidadãos, e como essa institucionalidade fracassou e levou nosso povo ao colapso, vamos realizar uma reforma constitucional profunda para acabar com esse período de democracias de massinha (plastilina)", disse.Foi esse momento que Correa escolheu para confirmar que, tal como prometeu durante a campanha eleitoral, assinaria o decreto de convocatória de uma consulta popular para que "o soberano, o povo equatoriano, ordene ou negue essa assembléia que busca superar o bloqueio político e econômico que vive o país".Correa ratificou assim uma das decisões que provocou a maior reação da oposição que hoje se expressou através do discurso do presidente da Assembléia, Jorge Ceballos.Apesar de ter dito que o Parlamento apóia uma assembléia constituinte, Ceballos se preocupou em ressaltar que essa deveria realizar-se sem trazer profundas transformações. Correa não evitou responder-lhe ao dizer que "chegamos a isso sem negociar com ninguém. A pátria já não está à venda". Ceballos aplaudiu com frieza a definição. Como segundo eixo de governo, o novo mandatário indicou a luta contra a corrupção, que se desenvolverá tanto em nível estatal como no âmbito privado. A terceira perna do que será a gestão do equatoriano se dará em torno do que ele chamou de revolução econômica."O neoliberalismo predominou na América Latina e, além de empobrecer a nossos povos, tinha como objetivo garantir o pagamento dos serviços da dívida externa", disse. "Isso foi o que se conheceu como Consenso de Washington, cujas políticas foram acolhidas por nossas elites, com as conseqüências desastrosas que todos conhecemos."Nesse contexto, Correa acusou os organismos multilaterais, aos quais considerou como responsáveis pela "aplicaçãod as políticas que destruíram o emprego" e assegurou que "o nefasto ciclo neoliberal foi definitivamente superado como o demonstram os povos de Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai, Chile, Venezuela, Nicarágua e, agora, Equador".Nesse marco de unidade latino-americana atual foi que Correa decidiu representar esse momento ao reproduzir o antigo lema dos movimentos populares: "Alerta que camina la espada de Bolivar por América Latina" (Alerta, que caminha a espada de Bolívar pela América Latina).Dito isso, levantou com suas mãos, frente ao auditório, uma réplica da espada do Libertador Simón Bolívar que lhe foi presenteada pelo "comandante a amigo Hugo Chávez".O novo presidente equatoriano ressaltou que "esta é a espada que percorre nosso continente" para logo assegurar que, a partir de hoje, "Equador se integra de maneira decidida à grande pátria sul-americana continuando com os ideais dos libertadores Bolívar e (José) San Martín".