Especialistas divergem sobre prioridade da política externa para América do Sul

14/09/2006 - 10h00

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A integração da América do Sul tem sido uma das prioridades na política externa brasileira. O projeto ganhou corpo com a criação da Comunidade Sul-Americana das Nações (Casa) em dezembro de 2004.Especialistas concordam com a importância do tema, mas discordam quanto à ênfase que deve ser dada ao projeto de integração. Alguns defendem que sejam retomadas as negociações para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Outros acreditam na integração latino-americana como única saída para garantir soberania aos países da região.“O projeto de integração latino-americana voltou ao primeiro plano da agenda, transformando-se numa espécie de coluna vertebral das políticas externas dos governos pós-neoliberais do continente”, avalia José Luis Fiori, professor titular de Economia Política Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Fiori considera que os Estados Unidos estão perdendo legitimidade na América Latina após o apoio ao fracassado golpe militar venezuelano de 2002 e o rompimento da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2003.“Há uma oportunidade sem precedentes para que o continente levante-se sobre suas próprias pernas e se proponha coletivamente não só como protagonista, mas como tema da nova agenda internacional definida pelas grandes potências mundiais”, avalia.Já Eduardo Viola, professor do departamento de relações Internacionais da Universidade de Brasília (Unb), considera que o Mercosul está em “crise profunda”. Segundo ele, Brasil e Argentina seguem caminhos diferentes na relação com seus parceiros comerciais.“O Brasil seguiu um curso econômico de integração crescente na economia global, e a Argentina seguiu uma tendência neo-protecionista. É uma contradição importante que leva a Argentina, permanentemente, a procurar exceções às regras do Mercosul”, explica.Os desentendimentos do Mercosul são totalmente superáveis, na visão do economista Theotonio dos Santos, diretor da Rede de Economia Global da Universidade das Nações Unidas (ONU) para a Economia Global e o Desenvolvimento Sustentável, é mais otimista com relação à agenda de integração sul-americana.“A relação com nossos vizinhos é muito boa nesse momento, há muita convergência política e de interesses pela integração. Os pontos de divergência são plenamente superáveis desde que haja uma política geral de desenvolvimento e crescimento da região”, avalia. Essa “convergência política” não é totalmente positiva, na opinião do embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad).“O Mercosul, a meu ver, está cada vez menos próximo de um acordo comercial e cada vez mais próximo de uma espécie de movimento político”, diz.“Acho que a prioridade tem que ser a solução dos problemas comerciais que existem dentro do bloco, tanto os problemas que têm afetado o intercâmbio entre Brasil e Argentina quanto as queixas recentes do Uruguai e do Paraguai, o desejo manifesto destes países de ter um tipo de liberdade de ação para acordos com os Estados Unidos”, destaca.