Pedro Biondi*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O câmbio brasileiro continuará flutuante. A afirmação foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante visita a obras da Ferrovia Norte-Sul, no norte de Tocantins, hoje (23). A fala do presidente se soma a diversas opiniões emitidas nas últimas semanas sobre possíveis mudanças na política que regula o comportamento do real em relação ao dólar.
"O câmbio continua flutuante. Pode ficar certo que não haverá mudança no câmbio", garantiu Lula, após assegurar que o governo manterá o rigor fiscal e justificar: "Chegou-se até agora numa situação de tranqüilidade como nós chegamos, e não vamos jogar fora a conquista que nós fizemos".
Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a afirmar que o governo federal estuda mudanças na legislação de câmbio, mas descartou qualquer interferência no mercado cambial. Segundo ele, o objetivo das medidas seria auxiliar as indústrias exportadoras. Com o real valorizado diante do dólar, fica mais caro para quem mora no exterior comprar as mercadorias produzidas no Brasil.
O ministro classificou o projeto de lei que trata do assunto no Congresso Nacional de "aberto demais" e disse que o governo pretende encaminhar um novo projeto à Casa. A atual proposta, de do líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), prevê que o exportador possa manter uma conta bancária no Brasil em moeda estrangeira e pagar dívidas no exterior sem ter que fazer a conversão no país. Foi apresentada em fevereiro, a partir de estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Fundação Centro de Estudos de Comércio (Funcex).
Na última sexta-feira (19), no 17º Congresso Nacional de Executivos de Finanças, o presidente do banco Central, Henrique Meirelles, disse que ainda não há medidas tomadas para flexibilização do câmbio, mas que está no momento de o Brasil repensar suas normas cambiais para que elas reflitam a nova realidade da economia brasileira. Comentou que nas últimas décadas o Brasil teve carência de moeda forte, mas hoje está em uma situação inversa, porque tem "saldo comercial muito forte, um saldo positivo de conta corrente, tem reservas e um fluxo positivo de entrada de dólares".
Na última quarta-feira (17), empresários do setor de autopeças pediram ao ministro Guido Mantega que os libere do prazo obrigatório para o fechamento do câmbio. Atualmente, o exportador tem um prazo estipulado para converter a moeda estrangeira internamente. De acordo com o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori, embora a previsão para exportações neste ano seja superior aos US$ 7,6 bilhões do ano passado, as perspectivas para 2007 são de queda nas vendas. Ele disse que a desvalorização do dólar frente ao real se refletirá, no ano que vem, nos contratos assinados este ano.
No dia 10, representantes da indústria de calçados do Rio Grande do Sul fizeram manifestação em Brasília pedindo, entre outras medidas, a desvalorização do real para facilitar as vendas para fora. Segundo o coordenador da manifestação, Marcos Dutra, cerca de 20 mil pessoas perderam seu emprego em função do fechamento de fábricas de calçado e demissões coletivas. "Precisamos de uma desvalorização de 10 a 15% para que as empresas possam sobreviver", disse.
* Colaborou Roberta Lopes