Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A ex-mulher do presidente do PL, Maria Cristina Mendes Caldeira, afirmou durante depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara que seu ex-marido Valdemar da Costa Neto mantinha contatos freqüentes com o tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, dentro do suposto esquema de pagamento de mesadas na Câmara.
Maria Cristina não apresentou provas da denúncia, mas disse que presenciou conversa telefônica entre o presidente do PL e o deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ) sobre uma "operação financeira" que ia fazer do PL o maior partido do Brasil. "O mensalão existe, e o Valdemar recebia. Eu acho possível que o PT não tenha nada a ver com isso. Pode ter sido uma coisa montada pelo Valdemar, Bispo Rodrigues e o Delubio", afirmou Maria Cristina.
A ex-mulher do presidente do PL disse não saber de maiores detalhes do suposto mensalão, e pediu aos membros da CPI que aprofundem as investigações. Ela disse que Delúbio Soares e Valdemar da Costa Neto mantinham encontros freqüentes em um hotel em São Paulo, e outro em Brasília.
Maria Cristina, que é publicitária, afirmou que decidiu se separar de Valdemar Neto no ano passado após perceber as "estranhas doações" financeiras ao PL. "Vi muitos fatos esquisitos. Chega um momento que fatos esquisitos chegam a ser mais que fatos esquisitos. Sou ex-mulher, não sou araponga e nem tenho pretenção política. Eu achei que tinha casado com uma pessoa, mas casei com um partido", disse.
Ela também confirmou ao Conselho de Ética uma suposta operação entre Delúbio Soares e Valdemar da Costa Neto no final de 2002, quando o governo de Taiwan teria doado US$ 2 milhões ao Partido dos Trabalhadores em troca de melhorias no relacionamento entre o Brasil e o país asiático caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se elegesse presidente. Maria Cristina disse que ajudou Valdemar da Costa Neto em uma tradução com um representante do governo de Taiwan durante visita ao país que tinha como objetivo a cobrança por Valdemar Neto do recursos prometidos para as campanhas do PT .
"O Valdemar me disse depois que, com a regra da verticalização (partidária), muitos políticos do PL tinham sido prejudicados, e o Delúbio contribuiria com o PL. Como o PT não tinha dinheiro, ele foi intermediar a doação do governo de Taiwan para ficar com 20% do total. O restante, ficaria com o Delúbio", afirmou Maria Cristina. As passagens para a viagem, segundo a ex-mulher de Valdemar, foram pagas pelo governo de Taiwan. Ela disponibilizou ao Conselho de Ética o original de seu passaporte, no qual, segundo ela, consta a data da viagem e o visto do país.
A ex-mulher de Costa Neto também acusou o presidente do PL de ingressar no Brasil com recursos ilegais recebidos em cassinos do Uruguai e Estados Unidos. "Ele ganhou US$ 60 mil em Punta del Este (Uruguai) e pediu para eu botar esse dinheiro na bolsa, e entrei no país com isso sem saber. E quando chegamos ao Brasil, ele pediu o dinheiro para ele", afirmou. Maria Cristina afirmou ainda que, quando formalizou o seu casamento com Costa Neto em Las Vegas (EUA), no ano passado, viu o ex-marido perder US$ 500 mil em um cassino da cidade. "Ele ia ao caixa, pegava as fichas (para jogar) e assinava um papel. Mas não sei de onde saía o dinheiro para ele jogar", disse.
Outra denúncia apresentada ao Conselho de Ética por Maria Cristina é que Valdemar da Costa Neto transportava malas com grande quantia de dinheiro dentro do Brasil e mantinha, em casa, um cofre de mais de 180 kg repleto de notas de US$ 100. As malas, segundo Maria Cristina, eram sempre transportadas por Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL. "Algumas vezes ele mandava eu e o choffer pagarmos ele em uma garagem e ele descia com as malas. Por coincidência, a gente viajava em avião particular, e não de carreira", disse.
Maria Cristina Caldeira ainda acusou o presidente do PL de ter comprado o Partido Social Trabalhista (PST) por R$ 5 milhões. A operação teria ocorrido em 2003, logo após um acidente aéreo sofrido por Maria Critina e Valdemar da Costa Neto - quando, segundo ela, retornavam de uma festa na fazenda do pai de Delúbio Soares. "O Valdemar diz que não tem intimidade com o Delubio, mas esse era o seu nível de intimidade", afirmou.
A publicitária disse que está "reunindo provas" para a apresentá-las à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar a compra de votos e a suposta prática do mensalão. Maria Cristina Caldeira, que está sendo processada por Valdemar em seis diferentes queixas-crime da época de sua separação, afirmou que amanhã vai protocolar no no Supremo Tribunal Federal (STF) uma queixa-crime contra o ex-marido contra as declarações de Costa Neto de que ela teria tentado extorqui-lo. "Se eu quisesse dinheiro do Valdemar, eu estaria brigando em uma Vara de Família ou ficava com o cofrão que ele tinha em casa", disse.