Depoimentos na CPMI dos Correios serão técnicos e aprofundados, afirma senador

25/06/2005 - 15h31

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), diz que as investigações estão sendo conduzidas pela comissão com grande rigor, para evitar desvios. O parlamentar ressalva que os trabalhos de uma CPI têm "dinamicidade" e que, portanto, "cada dia terá sua agonia" durante as apurações. Lembra também que qualquer depoimento na CPMI terá caráter técnico e não político, porque se destinará a verificar se, efetivamente, há irregularidades nos contratos mantidos pelos Correios.

As investigações na estatal começaram após a divulgação, em maio, de uma gravação em que o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho aparecia recebendo suposta propina de empresários. No vídeo, ele também falava sobre um suposto esquema de arrecadação ilegal de fundos a partir de funcionários de confiança indicados para estatais pelo PTB.

A CPMI encontra-se em funcionamento desde a última semana. Entre as pessoas que a comissão deve ouvir no futuro estão o deputado federal Roberto Jefferson, o publicitário Marcos Valério e a secretária Fernanda Karina Somaggio. Depois de ser citado por Marinho na gravação como suposto beneficiário de propinas arrecadadas em estatais, Jefferson passou a acusar Marcos Valério e dirigentes do PT de manterem um esquema de repasse mensal de propinas para deputados do PP e do PL, em troca de lealdade ao governo. Seria o chamado "mensalão". Fernanda, por sua vez, é ex-secretária de Valério e, em entrevistas à imprensa, tem declarado ter evidências de que Valério era "operador" do suposto esquema.

Leia a seguir o terceiro trecho da entrevista do senador à Agência Brasil.

Agência Brasil – Diante dos depoimentos já tomados e da documentação de posse da CPMI, o sr. acha que já se começou a abrir o leque de investigações?

Delcídio Amaral – Não. Nós estamos tendo um rigor enorme, tanto é que os requerimentos que aprovamos, todos tem ‘link’ com os Correios. Quer dizer, situações absolutamente concretas. Não quer dizer que alguém falou, que alguém disse em algum lugar, são coisas absolutamente definidas.

É inquestionável a maneira rigorosa e absolutamente realista, conseqüente, como estamos fazendo as investigações. Evidentemente, isso não quer dizer que isso fique por aí. A CPMI tem uma dinamicidade gigantesca. Ela evolui a partir dos depoimentos.

ABr – Pelo menos três depoimentos poderão chegar à questão do ‘mensalão’ (suposto pagamento de mesadas a deputados federais), que seriam os do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), da Fernanda Karina e do Marcos Valério. Como o sr. pretende agir nesse caso?

Delcídio Amaral – Acho que é aquela história: cada dia com sua agonia. Nós vamos ouvir, esperar os depoimentos. Estes depoimentos serão diferentes dos anteriores, na Câmara dos Deputados. Serão depoimentos técnicos, discutindo efetivamente contratos, procedimentos, em cima do que foi relatado por Maurício Marinho, pelos empresários (Washeck e Velasco). É um depoimento com outro tipo de envoltório, menos político e mais aprofundado...

ABr – Quando devem depor essas pessoas?

Delcídio Amaral – Nós vamos decidir nesta semana. Prefiro não me antecipar, porque tenho tomado estas decisões depois de conversar com todos os líderes e pretendo continuar a fazer as coisas desta maneira: trabalhar de uma maneira colegiada e consensual. O momento exige isto: responsabilidade, serenidade e lucidez.