Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) que acontece neste fim de semana pode debater diversos temas e tomar decisões que têm conseqüências diretas nos rumos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na apuração das
denúncias atualmente sustentadas pelo deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, contra integrantes do comando do PT.
Entre os temas que podem entrar em debate na reunião, que foi convocada de forma extraordinária, estão as providências que o partido tomará em relação às acusações de Jefferson. Ontem, o ministro demissionário José Dirceu discursou no Ato em Defesa
do PT e da Democracia. "Eu quero me colocar à disposição do PT para percorrer o Brasil, para fazer atos nas ruas, nas praças públicas, nas fábricas, nas escolas e nos assentamentos", disse, em relação à mobilização nacional que o partido organiza para responder às atuais acusações. Dirceu anunciou esta semana seu afastamento da Casa Civil da Presidência para voltar ao mandato de deputado federal e se defender na Câmara.
O presidente do PT, José Genoino, um dos 83 integrantes do diretório, disse ontem (17) que
o possível afastamento do secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Silvio Pereira, não está em pauta neste fim de semana. Os dois são acusados por Jefferson de pagar suposta propina a parlamentares em troca de apoio ao governo, no chamado esquema do "mensalão", e de participar de fraudes de licitações em estatais.
Ao chegar à reunião do diretório, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse há pouco que defende o afastamento dos dois. "Eu acho que seria interessante e de responsabilidade do próprio partido dizer: olha, nos consideramos isso tão importante que queremos dar
a você, Delúbio, a oportunidade de esclarecer inteiramente todos esses episódios, e dessa maneira eu sugiro à Executiva Nacional conceder licença remunerada a ele"
Segundo Suplicy, porém, o afastamento de Soares e Pereira não deve ser imposto pelo partido, mas negociado com os dois. "Isso deve ser mais objeto de um entendimento do que de uma votação. Até porque isso tem que ser colocado como uma decisão clara do próprio
Delúbio. Eu falo aquilo que eu faria se eu estivesse no lugar do Delúbio."
Suplicy pertence ao chamado Campo Majoritário, que reúne cerca de 60% dos 83 integrantes
do diretório nacional. Também pertencem ao agrupamento o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, José Genoino, e vários ministros.
A composição do diretório é estabelecida por meio de uma proporção entre os votos obtidos pelas diferentes chapas que concorrem a uma eleição direta. Em 2001, na última
eleição, foram sete chapas. Os outros 40% do diretório estão divididos entre os outros seis grupos, além do Campo Majoritário. Este ano acontece nova eleição direta. Concorrem dez chapas.
A reunião iniciou-se agora pela manhã com a chamada análise de conjuntura, uma discussão sobre o atual panorama político e econômico do país. Tendências minoritárias do diretório querem usar a reunião para discutir os rumos da atual política econômica. Para
Markus Sokol, da corrente O Trabalho, que tem dois representantes no diretório, "ainda é tempo de adotar uma outra politica e sinalizar para a maioria dos 53 milhões que elegeram Lula que nós estamos em condiçõe de realizar essas aspirações (de mudança)". Sokol
pede, especificamente, mudanças em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal e ao superávit primário estabelecido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Ontem, Dirceu disse também que quer utilizar sua volta a condição de militante do PT para estimular a discussão das atuais políticas praticadas pelo governo Lula. Sokol afirma que essa discussão anunciada por Dirceu será "bem-vinda".