Gabriela Guerreiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), garantiu hoje que o partido não vive um "racha" com a decisão do deputado Inocêncio Oliveira (PE) de trocar o PFL pelo PMDB. O vice-líder do partido na Câmara, deputado Pauderney Avelino (AM), disse que o PFL vive uma crise e chegou a anunciar que depois da saída de Inocêncio pelo menos outros cinco pefelistas também estão dispostos a trocar de legenda. "O partido ficou dividido em alas. Tínhamos como característica ser unificados e vimos a coisa se desagregar", afirmou Avelino.
Segundo o deputado, a crise foi intensificada com a eleição do deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ) para a liderança do partido neste ano. Filho do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, o deputado foi eleito com os votos da maioria da bancada na Câmara. O prefeito também foi escolhido pelo diretório nacional do PFL para concorrer pelo partido à Presidência da República em 2006. "Tanto a candidatura do prefeito como a do líder ocorreram por unanimidade. Não há questão de mérito a examinar. Eu não vejo divisão no partido. O PFL teve suas dificuldades, suas lutas internas, mas isso faz parte, é da democracia partidária", defendeu Bornhausen.
Para o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), a saída de Inocêncio não reflete a tradicional troca de partidos que ocorre no início de cada legislatura. "O Inocêncio não é um deputado que muda de partido, é conhecido nacionalmente como do PFL. É líder, foi da Executiva Nacional, ou seja, é um deputado absolutamente comprometido com a estrutura de partido. Se ele está saindo do PFL, deve ter algum motivo muito forte", revelou.
A saída de Inocêncio reflete a insatisfação de alguns parlamentares do PFL que gostariam de ocupar cargos tanto na Mesa Diretora como nas eleições de 2006. O próprio deputado admitiu que trocou de partido para tentar disputar o governo de Pernambuco no ano que vem. Já o deputado Pauderney Avelino disse que embora não esteja em busca de cargos na Mesa, espera ao menos que o PFL o indique para ocupar a liderança da minoria na Câmara. "Sou partidário, mas preciso de espaço para desenvolver o meu trabalho. Sou oposição, e se sair, tenho que ir para um partido de oposição. Só saio se o PFL não me quiser mais, se não me tratar bem", ressaltou.
O presidente Jorge Bornhausen admitiu que há descontentamento dentro do PFL em busca de espaço. "Nós temos eleições. A bancada é grande e é preciso decidir. Nós temos as posições nas Comissões e na Mesa. E nós vamos ter disputa. Como não dá para acomodar, isso é um resultado normal de uma Casa que tem 513 parlamentares. É evidente que haja algum descontentamento, mas isso é um fato que se renova anualmente, ou de dois em dois anos", afirmou.
Já o líder do PFL na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (BA), disse não acreditar em divisão dentro do partido: "Não tem 'racha': tem divergência, muita divergência. O maior partido do país, que é o PT, agora está com um 'racha', tem um candidato dissidente disputando. Mas a função dos líderes é procurar reunir os descontentes."
Aleluia garantiu que tentou impedir a saída de Inocêncio Oliveira do PFL, ao procurar o PMDB para trocar a primeira secretaria da Mesa da Câmara pela vice-presidência. Com isso, Oliveira poderia disputar o cargo na Mesa Diretora pelo PFL, sem deixar o partido. A rejeição da emenda da reeleição aos cargos da Mesa Diretora, no ano passado, impediu que Inocêncio Oliveira e os demais membros da Mesa Diretora fossem reconduzidos aos cargos. Atualmente, o PMDB ocupa a primeira-secrataria da Mesa e o PFL, a vice-presidência.