Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – As informações consolidadas das vendas em supermercados indicam tendências de consumo alimentar que levam à obesidade da população. No balanço das vendas divulgado em São Paulo pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), os dois maiores grupos de vendas em volume são Mercearia Doce, com 23,9% do total, e Bebidas não-alcoólicas, com 19,1%, com destaque para sucos prontos.
O setor de Mercearia Doce também é o que acumula o maior crescimento de volume de vendas no ano, entre os alimentos, com 5,3%. Dentro desse grupo, destacaram-se, pelo percentual de crescimento, bolos industrializados (+50,6%), café em pó (+13,4%), misturas para bolos (+2,4%), drops, caramelos e pastilhas (+7,6%) e leite em embalagens longa vida (+7,2%).
Em Bebidas não-alcoólicas, os destaques em crescimento de vendas foram os sucos prontos para consumo (15,9%) e refrigerantes (3,1%). A pesquisa da Abras não aferiu as vendas de refrigerantes em favelas. A opção do consumidor por carboidratos doces e açúcares, com aumento de compras de bolos, balas e refrigerantes, contrasta com o fraco desempenho em outros grupos de alimentos, como os do setor Mercearia Salgada.
Este é o terceiro maior grupo do conjunto, mas teve o menor aumento de vendas (+1%), desempenho provocado pela queda de compra de arroz (-1,7%). Nele, manteve-se estável o conjunto de óleos vegetais, mas destacaram-se, pelo crescimento de vendas, os pães industrializados (8,6%) e os aperitivos salgados sólidos (6,5%), com crescimentos menores para molhos de tomate (4,3%), massas instantâneas (2,5%) e massas alimentícias (2,1%).
No quarto maior grupo, o de alimentos perecíveis industrializados (12,1% do total), o crescimento foi de 4,3%, com destaque para carnes preparadas (como hambúrguer e salgadinhos, +16% de consumo em volume), embutidos de carne (lingüiças, salsichas, +9,7%) e, finalmente, leites fermentados doces (+1,03%). O relatório destaca que os embutidos são "a categoria mais importante dentro de perecíveis".
Além da tendência ao consumo de alimentos que provocam obesidade, o balanço da Abras mostra uma preferência pela compra de alimentos prontos ou de preparo rápido. Para José Augusto Taddei, Coordenador do Núcleo Interdepartamental de Segurança Alimentar e Nutricional da Unifesp, "este é um processo, no Brasil, do que está acontecendo no mundo todo, de aceleração de consumo de alimentos obesogênicos".
Ele destaca que "é preciso um trabalho combinado de empresários, comerciantes, jornalistas, professores, profissionais de saúde, tentando passar ao cidadão, junto com suas opções de escolha, os efeitos dessas opções. Hoje, a população mais esclarecida do primeiro mundo come alimentos industrializados, mas com opção de exclusão dos obesogênicos".