Controle da qualidade de programas televisivos passa pela sociedade, dizem especialistas

17/10/2004 - 15h11

Marina Domingos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A psicanalista Maria Rita Kehl, autora do livro "Videologias" junto com jornalista Eugênio Bucci, presidente da Radiobrás, disse hoje que a própria discussão sobre a qualidade na televisão nas escolas forma um senso critico entre telespectadores que pode ser fomentado dentro das salas de aula. A afirmação foi feita durante debate sobre a democratização dos meios de comunicação promovido neste domingo pelo Programa Diálogo Brasil, da TV Nacional.

Para ela, "O Brasil não precisa de meios de controle da programação, mas de criar formas de convívio social de lazer desligadas da televisão. Ela (TV) ocupa espaço demais na vida do cidadão brasileiro. Só o publico pode confrontar os interesses das emissoras e exigir compromisso ético dessas emissoras", destacou Maria Rita.

Já a jornalista e presidente da TVE/Rede Brasil, Bete Carmona, ressaltou que na Europa existem os mesmos tipos de problemas sobre o controle da qualidade dos programas na TV. Ela lembrou que a TV comercial tambem invadiu o espaço da TV pública e que uma das maneiras da sociedade tentar controlar a qualidade é por meio da participação em organizações não-governamentais (ONGs). "Existem uma série de organizações que trabalham junto às escolas, numa leitura crítica dos meios. Um trabalho realizado com professores para ensinar a discutir e a falar dessa televisão, que invade tanto a nossa vida e o dia-a-dia", afimou.

O presidente do Conselho da TV Cultura de São Paulo, Jorge Cunha Lima, destacou que a resistência para a criação de mecanismos de controle da programação não é uma questão da imprensa. Segundo ele, o que existe é a liberdade do dono da empresa de comunicação e não a liberdade de imprensa. "Essas empresas tinham que ter, no mínimo, uma consciência interna e respeitar a Constituição Federal, que é bem clara ao dizer que a TV foi criada para verificar os valores da familia", argumentou ele.

Para Cunha Lima a Constituição brasileira é a única que diferencia TV estatal de TV pública e TV comercial. "A TV estatal, institucional, tem seu papel de revelar as ações do Estado, seja no poder Executivo, Legislativo ou Judiciário. A TV pública é uma vontade da sociedade. Para que ela exista é preciso ter uma estrutura jurídica institucional independente do governo, o que é muito difícil. A TVE (Rio de Janeiro) já ganhou essa dimensão, a TV Cultura (São Paulo) e todos os governadores estão tendendo que as emissoras se modifiquem", avaliou ele.