O importante não é a renda, mas o crédito, diz Nobel da Economia

27/06/2004 - 13h10

André Deak
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Ao contrário do que se pensa, o dinheiro não é o grande responsável pelo desenvolvimento; o maior facilitador de atividades econômicas de um país é o crédito. Essa, ao menos, é a teoria que o prêmio Nobel de Economia, o norte-americano Joseph Stiglitz, defende em seu livro recém-lançado no Brasil, "Rumo a um novo paradigma em economia monetária", escrito em co-autoria com o também economista Bruce Greenwald. Em entrevista à Agência Brasil, Stiglitz conta o que o Brasil poderia fazer para alcançar suas metas sociais, baseado nesse "novo paradigma".

Caso a tese dos economistas norte-americanos esteja correta, boa parte da teoria tradicional sobre teoria monetária estaria errada. Uma vez que o crédito é determinante para o desenvolvimento econômico de um país, conforme defende o norte-americano, os bancos seriam peças fundamentais desse sistema – já que são responsáveis por boa parte do crédito do país. No Brasil, a diferença entre os juros que os bancos pagam quando tomam dinheiro e os juros que cobram quando concedem empréstimos (conhecida como spread bancário) é uma das maiores do mundo: em dezembro de 2003, era 30,5% ao ano. Para se ter uma idéia, essa taxa é muito menor em países como a Coréia do Sul (3,6% ano ano), Malásia (1,2%), México (3,0%), Rússia (3,9%) ou na região do Euro (3,2%).

Stiglitz afirma que os bancos não são uma indústria competitiva "em quase nenhum país do mundo, e não se pode dizer ‘deixe que a liberdade de mercado faça seu trabalho’. Não seria possível chamar isso de conspiração, mas o grau de competição é suficientemente baixo para não haver pressões sobre o spread. Esse é um problema sério, principalmente para países em desenvolvimento". Segundo ele, os bancos estão aproveitando essas diferenças enormes e produzindo lucros exorbitantes com elas. "Minha sugestão é que o governo tente criar dispositivos fortes para uma política anti-truste capaz de fazer com que as taxas de empréstimos bancários baixem. Mas se isso não for rápido o suficiente, penso que medidas mais fortes seriam apropriadas."

Por não compreender esse sistema, segundo Stiglitz, é que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estaria cometendo erros. "Eles acreditam demais no livre mercado e no sistema bancário. Eu diria que o governo brasileiro deveria ver o FMI com um bom grau de ceticismo. O sistema de julgamento do FMI está errado. As políticas fiscais e monetárias são geralmente equivocadas. Mas, obviamente, governos que praticam boa política devem escutar todos os lados de uma questão antes de tomar sua própria decisão", afirma.

O prêmio Nobel também defende as medidas conhecidas como "controle de capitais" como mecanismos de estabilização da economia. "Acho que as melhores medidas são aquelas parecidas com o que fez o Chile, o controle de capitais na entrada", diz.

Nascido nos Estados Unidos, Joseph Stiglitz compartilhou um prêmio Nobel com outros dois colegas em 2001. Hoje dá aulas na Universidade de Columbia, em Nova York. Foi economista-chefe e vice-presidente do Banco Mundial de 1997 a 2000 e, depois, tornou-se um grande crítico de todas as instituições financeiras internacionais.

A Agência Brasil publica ainda, amanhã, dia 28, outros trechos da entrevista.