ONGs pedem "comércio justo" como alternativa ao "comércio livre"

11/06/2004 - 19h30

Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Um comércio mais "fair", além de "free", ou seja, mais "justo" com os países em desenvolvimento, e não só "livre", como querem os desenvolvidos. Essa pode ser uma das receitas para tornar mais equilibradas as relações internacionais no plano econômico. A idéia foi proposta hoje no Fórum da Sociedade Civil, evento paralelo à 11a Conferência da Unctad, que acontece de hoje até o próximo dia 18, em São Paulo.

O fórum reúne organizações não governamentais, sindicatos, grupos religiosos, movimentos sociais de todo tipo de pelo menos 40 países. Até a próxima semana, são esperadas pelo menos 200 entidades. Neste sábado, será concluída uma carta com a posição dessas ONGs a respeito dos temas tratados pela reunião da Unctad.

Nesta sexta, o fórum discutiu "alternativas ao livre comércio" e a "reestruturação do sistema internacional". Propostas concretas foram apresentadas, como o apoio às iniciativas de "fair trade". O "comércio justo" consiste na certificação de que todas as pessoas envolvidas na produção de um determinado bem tiveram pagamento justo pelo seu trabalho, respeitaram os direitos humanos, a auto-organização das comunidades locais e o meio ambiente, entre outros fatores.

Iniciativas de "fair trade" já existem inclusive no Brasil, mas elas ainda têm caráter local. Uma das ONGs que participa do fórum, a World Vision, divulga no evento uma experiência com a produção de frutas em Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Segundo a ONG, são beneficiados 3 mil pequenos produtores, que exportam melão, castanha de caju e artesanato para países como Holanda, Inglaterra, Bélgica, Luxemburgo, Suíça e Itália.

"Hoje, o fair trade é considerado insignificante, um ‘nicho de mercado’, mas ele pode se tornar uma alternativa ao livre comércio", afirmou Kari Hamerschlag, representante da IATP (Institute for Agriculture and Trade Policy) em palestra no fórum. Kari conta que produtores de café nicaragüenses beneficiados por projetos de "fair trade" conseguiram uma remuneração cinco vezes maior pelo seu produto em relação ao modo de comércio tradicional.

"O consumidor é que pode escolher o produto de acordo com a forma como ele foi produzido. Precisamos apoiar o consumidor a exigir o ‘fair trade’", disse Kari, sobre a estratégia para a implementação da idéia. "É um modelo que vai fazer as empresas reverem processos e práticas. A Unctad poderia investir em pesquisas sobre o tema".