Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A 11a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD XI), lançada hoje, nesta capital, deverá trazer, como um dos principais resultados práticos, uma dura crítica às barreiras que prejudicam o comércio dos países em desenvolvimento. Foi o que informou hoje o secretário geral da Unctad, embaixador Rubens Ricupero.
"Em primeiro lugar, a redução das barreiras que ainda entravam o potencial do comércio entre países como o Brasil, Índia, África do Sul, Tailândia, Malásia, China... Esse potencial é muito grande. Nós da Unctad estimamos que, só em relação à Índia, é possível, com algumas reduções ampliar o comércio em dezesseis vezes. Hoje, este comércio está chegando a mais ou menos US$ 2 bilhões", disse.
Ricupero ressaltou que as negociações sobre agricultura na Organização Mundial do Comércio (OMC) estão paradas e a Unctad realizará duas reuniões importantes sobre o tema para encaminhar a questão. "No Grupo dos 20, do qual o Brasil é um dos principais participantes, e em seguida do grupo dos cinco países mais poderosos nas negociações, inclusive os Estados Unidos e União Européia", informou.
Segundo Ricupero, serão feitos esforços no sentido de combater as barreiras à agricultura. "Há 50 anos que o mundo não consegue liberalizar a agricultura, porque ela é muita protegida nos países ricos, que não são competitivos", afirmou.
Prestígio
Após a cerimônia de lançamento, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, destacou que a realização da Unctad na cidade trará prestígio e credibilidade internacional. "Isso significa ser a sede de uma discussão extremamente importante para os países em desenvolvimento e nós ficamos orgulhosos de São Paulo e o Brasil terem sido escolhidos, consideramos que é um gesto ao presidente Lula, que tem se empenhado na discussão da situação dos países emergentes e na situação de dificuldade das organizações internacionais", disse.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, lembrou que os bons resultados da economia brasileira neste ano se devem em grande parte ao comércio exterior. Por isso, segundo ele, é importante que o Brasil e o estado sejam sede de uma conferência sobre comércio e desenvolvimento. "O comércio exterior é que tem ajudado muito a melhorar a renda e o trabalho e São Paulo responde por mais de um terço das exportações brasileiras", disse, acrescentando que é preciso fazer a "lição de casa", investindo cada vez mais em infra-estrutura, logística, inovação tecnológica, responsabilidade fiscal e outros aspectos importantes.
Um dos principais eventos preparatórios para a Unctad, a reunião do G-77 - grupo de países em desenvolvimento e China - que começou hoje no Complexo do Anhembi, terá o foco no comércio internacional e nas negociações sobre barreiras. O encontro servirá para mostrar a união dos países em desenvolvimento por condições mais justas de comércio.
"Há sempre manobras para tentar dividir os países em desenvolvimento. Por isso a reunião do G-77 é importante também, para mostrar que há muito mais coisas que nos unem do que nos separam", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
"Todos nós temos interesse na eliminação dos subsídios agrícolas e melhoria de acesso a mercados de países em desenvolvimento", explicou o ministro Celso Amorim.
O presidente do G-77, Sheikh Mohammed Bin Ahmed Bin Jassim Al-Thani, ministro de Economia e Comércio do Qatar, informou que o grupo está trabalhando em uma declaração sobre negócios e comércio. Ele disse que os países participantes procurarão destacar suas expectativas em relação ao futuro e expressar a determinação dos membros em manter e fortalecer a solidariedade mútua.