Brasília, 15/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - O delegado Jorge Pontes, chefe da Divisão de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico (DMAPH), disse hoje que um grupo de pessoas presas temporariamente pela Polícia Federal afirma que há índios viciados na atividade de caçar para vender partes de animais silvestres para confecção de artesanato. Pontes é o coordenador da "Operação Pindorama" da PF, que investiga casos de envolvimento de quadrilhas com o contrabando desses animais.
Pontes disse que a PF está de posse de um extrato bancário que comprova o pagamento referente à atividade na conta de um índio, cuja etnia não foi divulgada. De acordo com o delegado, os índios, no entanto, são os fornecedores primários e os que menos ganham com a comercialização.
"Viciaram os índios nesta prática de caçar e abater os animais e esse é um comércio voraz, principalmente no exterior. Os índios podem matar os animais para se vestir, para os seus rituais. Do que matam para comer, podem vender o artesanato. Mas há um interesse de comerciantes estrangeiros. A idéia era permitir que eles fizessem artesanato das sobras de animais, quando, na verdade, não está acontecendo isto. Os índios estão abatendo os animais para exportar. Isso é um contrabando. Adotamos uma postura de não reprimir das mãos do índio. Nós reprimimos da mão dos comerciantes", esclareceu Pontes em entrevista coletiva na sede da Polícia Federal, em Brasília.
Foram presas onze pessoas de uma mesma quadrilha, além de um estrangeiro fora do país, representando apenas uma parcela da rede de contrabando, que liga Estados Unidos e Europa ao Brasil. No exterior, as peças chegam a ser vendidas a US$ 3,5 mil. No Brasil, o valor varia entre R$ 30 e R$ 600. Entre os presos, sete são funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai). Segundo o delegado Pontes, os servidores corrompiam os índios e os convenciam a caçar animais silvestres em suas terras.
"Chegou ao ponto de, nos Estados Unidos ou na Europa, um sujeito mandar um fax para um comerciante no Brasil, que parece uma lista compras de supermercado: 'quero dentes de onça, unhas de tatu, dentes de macaco, penas de arara'. Todos os animais protegidos, raros e caros da fauna silvestre, para que fossem encaminhados por sedex para o exterior, utilizando os serviços do correio para fazer contrabando", afirmou o delegado.
Os servidores foram indiciados por contrabando, formação de quadrilha, corrupção e receptação. Mais de mil peças foram apreendidas e estão sendo encaminhadas para análise. Penas de araras, dentes de onça, pele de gatos selvagens estão sendo contrabandeados, além de peças de outros animais também ameaçados de extinção. A loja "Artíndia", que pertence à Funai, também está sendo investigada como ponte para o comércio ilegal de pedaços de animais.
"A PF desenvolveu a Operação Pindorama há pouco mais de um ano porque descobriu que o comércio de artesanato indígena no Brasil, principalmente o que acontece dentro da Funai e de uma loja chamada Artíndia, estava saindo do país como contrabando, e os comerciantes estrangeiros estavam usando como intermediários estes comerciantes, tanto privados como da Artíndia, fazendo com que os índios fossem à mata e abatessem animais simplesmente destinados ao comércio internacional, saindo do país na condição de mercadoria proibida", explica Pontes.
A Operação Pindorama realizou prisões em Rondônia, Mato Grosso, Pará, Amapá e Goiás, além de buscas em São Paulo e Brasília. A DMAPH solicitou diligências da PF nos estados do Acre, Roraima e Bahia e está em contato com a Interpol – Organização de Polícia Criminal Internacional – para troca de informação nas investigações.
"A idéia é que esta questão seja resolvida administrativamente, mas há também a situação penal, porque algumas destas pessoas são servidores públicos e têm recebido depósitos, inclusive do exterior, direto na sua conta corrente", disse.