Brasília, 15/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - A marcha de agricultores atingidos por barragens partiu de Goiânia na última quinta-feira (13), e tem previsão de chegar a Brasília na próxima segunda-feira, 24, em uma caminhada de 12 dias. Participam dela mais de 500 pessoas, que atravessarão sete municípios até chegar à capital federal.
Essa é uma mobilização organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que visa denunciar a situação dos agricultores, exigindo do governo mudanças na política de construção de hidrelétricas e no modelo energético do país. A pauta de reivindicações contém onze pontos e já foi encaminhada ao presidente Luís Inácio Lula da Silva e ao Ministério de Minas e Energia, segundo Marco Antônio Trierveiler, da coordenação do MAB. De acordo com ele, os agricultores só deixarão Brasília após uma resposta do presidente da República, como a data para uma audiência com os trabalhadores rurais.
Segundo Trierveiler, o MAB se encontrará com outras organizações da Via Campesina ao chegar à capital, entre elas o Movimento dos Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Trierveiler antecipa que os pequenos produtores ficarão acampados nos fundos do Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, nas proximidades do Albergue da Juventude.
"Estamos há um bom tempo discutindo a pauta com o governo. Nosso objetivo é denunciar a problemática das famílias dos agricultores. Tem gente passando fome, sem terra e sem crédito. Estas são reivindicações da pauta, que se estende ainda à diminuição do valor da energia elétrica e à discussão do modelo de matriz energética mais apropriado, barato e de menor impacto", explicou.
Segundo Trierveiler, de cada dez famílias expulsas pela construção de barragens, sete deixam as terras sem qualquer direito. Para ele, o ponto mais importante é evoluir na negociação com o governo para a política de tratamento ao atingido, negociando antes da construção, a fim de garantir direitos básicos como o acesso à terra. Para o coordenador do MAB, a política do governo parece contraditória.
"O Governo pretende construir 70 barragens nos próximos anos, além das 50 em fase de construção. Pela sua meta de reassentamento, vai haver mais gente sendo expulsa do que assentada. Aproximadamente, 100 mil famílias vão ser expulsas por estas obras, número maior que a meta do Governo para reassentar as famílias", concluiu.
Com a construção de barragens, áreas de terras férteis de agricultura familiar ficam inundadas. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é uma organização presente em quinze estados afetados pela construção de hidrelétricas.