Brasília, 27/04/2004 (Agência Brasil - ABr) - De 1985 a 2003, 1.349 pessoas foram assassinadas no campo, em 1.003 ocorrências diferentes. O balanço foi divulgado hoje pelo presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Tomás Balduíno, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra.
Segundo o religioso, somente 75 das ocorrências até hoje foram julgadas, sendo que 64 executores foram condenados e 44 absolvidos, o que caracteriza, em sua opinião, o crescimento da impunidade no país. "A impunidade se torna a grande incentivadora e promotora dos crimes contra os trabalhadores do campo", afirmou Balduíno aos deputados e senadores.
Dom Tomás Balduíno informou também que os crimes decorrentes da luta pela posse da terra aumentaram no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2003, 73 trabalhadores rurais sem terra foram mortos, de acordo com ele. "O aumento considerável dos assassinatos neste primeiro ano do governo Lula mostra bem que, quando o Executivo não reprime os movimentos sociais, como é costume em nosso país, o poder privado do latifúndio se encarrega de fazê-lo", afirmou.
Em entrevista após quase três horas de depoimento à CPMI da Terra, o ex-bispo da cidade de Goiás Velho (GO) assinalou que as mortes aumentaram no Governo Lula porque houve uma expectativa "muito grande" dos trabalhadores rurais desempregados, o que estimulou e fez engrossar o contingente de pessoas em busca de terra para trabalhar.
Na avaliação de Dom Tomás, o processo de assentamentos promovido pelo governo está muito lento. "É preciso que o governo Lula descubra os lugares de impasse, de estrangulamento da bendita reforma agrária", recomendou.
No depoimento, o presidente da CPT disse que um dos mais poderosos instrumentos de domínio e concentração fundiária no meio rural "é sem dúvida a grilagem". Dados oficiais do Incra, apresentados por ele, mostram que o total de terras sob suspeita de serem griladas é de aproximadamente 100 milhões de hectares.
Para o bispo, as terras vendidas a estrangeiros e a multinacionais são outros fatores que dificultam a implementação da reforma agrária no país. O agronegócio, principalmente na região Centro-Oeste, também tem um papel inibidor e negativo da reforma agrária, na visão do bispo.
"Trata-se do modelo voltado para o lucro, sempre concentrado em poucas mãos e até com dispensa do trabalho assalariado pela introdução de máquinas possantes e pela modernização via informática. Como se trata de monocultura em vista da exportação, cresce sempre mais a exigência de mais e mais áreas". E completou dizendo que a região é uma das que apresentam o mais alto índice de violência: "O Centro-Oeste, o paraíso do agronegócio, é ao mesmo tempo o inferno da violência contra os trabalhadores".