Celso Amorim: Brasil não dá razão para suspeita atômica

06/04/2004 - 20h30

Nádia Faggiani
Repórter da Agência Brasil

Brasília - "É importante para o Brasil manter não só seu segredo tecnológico, mas também sua capacidade de desenvolvimento tecnológico", afirmou hoje o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, referindo-se à proposta feita pelos Estados Unidos para que o país aceite o protocolo adicional de inspeção dos fiscais da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para a planta da Indústria Nuclear Brasileira, em Resende (RJ).

Celso Amorim fez a declaração em audiência pública na Câmara dos Deputados. Segundo o ministro, o porta-voz do Departamento de Estado do governo americano disse nesta quarta-feira à imprensa que o Brasil é uma espécie de país modelo e que pode inspirar outros países. "Prefiro acreditar que seja isso, mas acho que não são tão poucos os países que detém hoje essa tecnologia de enriquecimento de urânio. Prefiro não especular, mas acho que devem ser pedidas garantia adicionais aos países que derem razão para suspeita. O Brasil não dá razão para suspeita", ressaltou Amorim.

Segundo o ministro, o país tem cumprido fielmente suas obrigações internacionais de maneira exemplar, mas o mesmo não tem sido feito por potências nucleares que descumprem as obrigações do artigo 6 do Tratado de Não-proliferação Nuclear, que prevê a negociação para eliminar todas as armas nucleares.

Para ele, o Brasil precisa dar um crédito de confiança aos inspetores da agência atômica, mas também merece um crédito de confiança em relação à sua atitude na área nuclear. "Não há nenhuma suspeita no caso do Brasil de que o país tenha desviado urânio para outra atividade. As salvaguardas que valeram durante 50 anos para todo mundo podem valer para a gente. Em relação à Resende, é uma questão específica de negociar a forma com que é feita a inspeção. Os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica não são necessariamente espiões. A única coisa certa é que temos que ser cautelosos", afirmou o ministro.

Celso Amorim explicou ainda que o Brasil participa cotidianamente da Comissão de Energia Atômica, por meio da embaixada brasileira em Viena e que quando o Brasil aderiu ao Tratado de Não-Proliferação o país já cumpria as salvaguardas impostas.