Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A partir desta segunda-feira, ministros, empresários, observadores e ativistas de 34 países do hemisfério ocidental (exceção a Cuba) lançam os seus olhos para Miami, onde tem início a série final de negociações rumo à formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Brasil e Estados Unidos co-presidem essa fase, que, pelo cronograma, deve conduzir à formalização do bloco em 2005.
A VIII Reunião Ministerial da ALCA, de 19 a 21, será precedida da XVI Reunião do Comitê de Negociações Comerciais (CNC), das quais só participam seus técnicos. Há, nitidamente, dois blocos de interesses, os quais Brasil e Estados Unidos representam bem.
De um lado está a proposta apresentada pelos Estados Unidos, que fazem pressão para a abertura de segmentos como química, informática, desenvolvimento tecnológico, propriedade intelectual e acesso a mercado de compras governamentais. O Brasil, por outro lado, pede uma contrapartida de abertura de determinados setores do mercado americano, principalmente o agrícola, em que o país é mais forte.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, segue otimista quanto à proposta brasileira de dar mais flexibilidade ao acordo, podendo cada país negociar, bilateralmente, temas que considere mais vantajosos. Segundo Amorim, a idéia foi bem aceita pelo representante de comércio dos EUA, Robert Zoellick, em reunião que tiveram há duas semanas. "Eu fiquei encorajado pelas conversas porque o elemento de flexibilidade nosso foi compreendido. A Alca pode ser ampla, desde que seja equilibrada não só para um lado", disse o ministro.
A comitiva oficial brasileira - que contará com os ministros Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Roberto Rodrigues, Agricultura, e Celso Amorim, Relações Exteriores, - levará consigo um grupo de observadores da área empresarial. Torcendo pela criação de uma Alca que não prejudique o desenvolvimento econômico brasileiro, os observadores querem acompanhar de perto a elaboração da Declaração Final de Miami. "A posição brasileira tem que ser cautelosa para não abrir muitos flancos estratégicos que possam prejudicar a evolução de uma retomada do desenvolvimento com competitividade e prejudicar a indústria brasileira", defendeu Osvaldo Douat, presidente da Coalizão Empresarial, braço da Confederação Nacional da Indústria (CNI) responsável por acompanhar as negociações comerciais do Brasil com outros países e blocos econômicos.
Outra Alca
Outro grupo de brasileiros acompanhará reunião ministerial, mas do lado de fora do Hotel Intercontinental, sede do evento. Representantes da Aliança Continental Social, como o economista Marcos Arruda e a sindicalista Maria Lúcia Satorelli, empunharão a bandeira brasileira para gritar palavras de ordem "por uma outra Alca possível".
Os ativistas terão como companhia, na praça Chopin, empresários norte americanos, produtores de frutas cítricas, que exigem dos Estados Unidos posição protecionista para evitar a invasão da laranja brasileira no seu país.