Brasília - Rita Maria da Silva tem 58 anos de idade e há um mês começou a freqüentar a escola para aprender a ler e a escrever. Satisfeita com sua própria coragem de tomar a iniciativa de estudar depois de adulta, ela quis dividir o sentimento com outras pessoas e, hoje, no programa Ação Global, na cidade de Santa Maria (DF), foi em busca de pessoas analfabetas interessadas no mundo das letras. Junto com as colegas que estudam no Serviço Social da Indústria (Sesi), de Taguatinga, ela foi divulgar o programa de alfabetização do governo federal "Por Um Brasil Alfabetizado", do qual o Sesi é parceiro.
Rita tem o sorriso estampado no rosto quando fala do aprendizado da leitura e da escrita, como uma criança que recebe um doce. Antes da "cata" de novos alunos, ela e suas colegas tiveram uma aula no estande da alfabetização do Ação Global. O programa de alfabetização do governo tem 1 milhão de adultos analfabetos em sala de aula desde que foi lançado em agosto. Destes, 100 mil são atendidos pelo Sesi. A professora Maria Eloísa Macedo é professora do Sesi e se sente empolgada com a nova tarefa. "À tarde dou aulas para crianças de oito anos e, à noite, para os adultos. É gratificante. No primeiro dia de aula, quando cada um se apresentou, a maioria dizia que era muito difícil poder sequer pegar um ônibus sem ter que pedir ajuda de alguém e, hoje, quando os vejo já formando frases, dá uma alegria indescritível", relata.
Nascida na pequena cidade de Monte Azul (MG), Rita não freqüentou a escola quando criança porque seus pais não davam importância ao estudo. "Eles achavam que só era preciso trabalhar na roça. Então, depois me casei e, ao ver meus filhos nas tarefas escolares, via o quanto era bom saber ler", diz a dona de casa. O maior trauma que teve, no passado, por não saber ler, nem escrever, no entanto, segundo Rita, foi quando precisava muito do número de telefone de uma amiga e não soube escrevê-lo quando uma colega lhe telefonou para dar a informação. "Tive que buscar uma vizinha para ela anotar".
O tema do Ação Global nacional, neste ano, é "Alfabetização em um Brasil de Cidadania". O programa promovido pelo Sesi e pela Rede Globo de Televisão oferece gratuitamente, durante todo o dia, em 25 cidades brasileiras, serviços como corte de cabelo, cursos, consultas médicas e odontológicas, atendimento jurídico, emissão de documentos e brincadeiras para as crianças. A ministra Emília Fernandes, da secretaria especial de Políticas para as Mulheres, esteve na abertura do Ação Global em Santa Maria e disse que o papel do programa é muito importante no resgate da cidadania. Segundo ela, a secretaria tem estimulado as mulheres, com a ajuda de movimentos organizados e dos conselhos estaduais de direitos da mulher, a buscar o programa de alfabetização do governo e também a fazer seu registro civil. "Constatamos que há ainda milhares de mulheres sem carteira de identidade, documento pedido para o cadastro no fome zero", afirmou.
O secretário nacional de Erradicação do Analfabetismo, João Luiz Homem de Carvalho, também foi conferir como estava o cadastramento de adultos analfabetos interessados em se inscrever no programa de alfabetização do governo. Segundo ele, o Sesi recebeu recursos R$ 9,4 milhões para atender os primeiros alunos na fase inicial do programa e receberá outros R$ 9 milhões até o fim do ano. O diretor nacional do Sesi, Rui Lima, disse que, com isso, a entidade terá 200 mil alunos em sala de aula. Hoje, são atendidos 100 mil.
Carvalho ressaltou que o ministério da Educação dará ênfase na disponibilidade de livros para dar continuidade ao programa de alfabetização. O objetivo é reforçar o programa "Agentes de Leitura", pelo qual carteiros distribuem livros nas casas dos recém-alfabetizados, em forma de empréstimo; o programa Meu Primeiro Livro, pelo qual a mulher analfabeta ganha um exemplar para estimular os filhos à leitura; o Cesta Ilustrada, cujo texto de projeto de lei está na Casa Civil e prevê que toda cesta básica tenha também um livro como parte de seu conteúdo; e o programa Bibliotecas Domiciliares. "O recém-alfabetizado, às vezes, se esquece do que aprendeu porque não tem oportunidade de exercitar seu aprendizado. Queremos acabar com isso", aifrmou.