Lula faz balanço dos três meses de governo e pede que população mantenha confiança

07/04/2003 - 20h58

Brasília, 7/4/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou hoje a rede nacional de rádio e televisão para apresentar à população brasileira um balanço dos três primeiros meses de seu governo. Com a duração de nove minutos e dividido em oito blocos, o pronunciamento do presidente englobou alguns dos principais temas presentes na pauta de discussões do país, como a crise econômica, as reformas tributária e da previdência social, a segurança pública, o salário mínimo e o programa Fome Zero.

A atual crise econômica foi o assunto com maior destaque no pronunciamento. Lula lembrou que, quando assumiu a Presidência da República no início deste ano, a economia brasileira vivia "um momento dramático", com o dólar alcançando R$ 4,00, o risco Brasil disparando e a inflação voltando a crescer. "Alguns diziam que o Brasil estava à beira da falência", lembrou. O presidente enfatizou, entretanto, que esse desabafo não é uma reclamação, uma vez que ele e sua equipe sabiam das dificuldades que teriam que enfrentar ao longo dos próximos quatro anos. "Não se trata de jogar a culpa em ninguém. Se trata, apenas, de deixar bem claro como recebemos o país. Para que vocês possam compreender de verdade a dimensão do esforço e a importância do trabalho que fizemos para mudar esse quadro", enfatizou.

Na avaliação do presidente, não é exagero afirmar que o futuro do Brasil e de todo o seu governo dependiam, diretamente, de como conduziria o país no início da sua gestão. Os resultados de sua atuação, segundo ele, vêm permitindo aos brasileiros manter o otimismo sobre o futuro do país. "(Somos) um governo que conhece muito bem o tamanho das nossas dificuldades, mas que acredita num futuro bem melhor para o nosso país e para o nosso povo", ressaltou.

O presidente admitiu que tomou medidas "amargas" como o aumento dos juros e o corte de R$ 14 bilhões no Orçamento do governo federal para garantir a recuperação da economia brasileira. "Foi um remédio amargo, eu sei que foi. Mas para mudar o país de verdade, muitas vezes o remédio amargo é a única alternativa. Agora, é seguir em frente, com cuidado, sem otimismo exagerado, com os pés no chão, mas com a certeza de que dias melhores virão", enfatizou. Ele revelou que perdeu "algumas noites de sono" para tomar essas medidas "firmes", mas lembrou que elas promoveram a queda do dólar e do risco Brasil, além do controle da inflação. "O sacrifício não está sendo em vão. O mundo voltou a acreditar no Brasil", resumiu.

As recentes viagens internacionais mostraram a todo o mundo, segundo o presidente, o projeto de governo "sério e responsável" que tinha planejado para o país, capaz de reestruturar o Brasil para os próximos vinte ou trinta anos. "Sobretudo, mostrei que o Brasil é o país do carnaval e do futebol, sim, e com muito orgulho, mas que somos também o país da indústria, da agricultura, do comércio, e do turismo. Enfim, um país imenso, com grande potencial de crescimento. E o mais importante: com um povo sério e trabalhador", ressaltou.

Nesse sentido, ele destacou a importância das reformas tributária e previdenciária na promoção de mudanças essenciais ao país, especialmente no combate à corrupção e na geração de empregos. "Com as reformas, vamos corrigir distorções, combater a corrupção, e incentivar o desenvolvimento – única forma de gerar os empregos que tanto precisamos", disse. O presidente reiterou que vai enviar, ainda este mês, as duas propostas de reformas ao Congresso Nacional para que possam ser votadas no primeiro semestre deste ano. Lula ressaltou, ainda, o caráter democrático das reformas, uma vez que vêm sendo discutidas em conjunto com toda a sociedade por meio do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. "O nome disso é mudança, mudança de estilo, mudança de forma de agir", enfatizou o presidente.

Apesar de ter autorizado na semana passada o reajuste do salário mínimo de R$ 200,00 para R$ 240,00, o presidente ressaltou no pronunciamento que o aumento não foi o ideal, mas o possível ao país neste momento. Ele garantiu que gostaria de ter concedido um reajuste maior no salário mínimo, mas revelou que agiu com "cautela e prudência" ao autorizar o aumento de apenas 20% no mínimo. O presidente reiterou, entretanto, a sua promessa de campanha de dobrar o poder de compra do salário mínimo até o final do seu governo. O reajuste de 20% concedido pelo presidente no salário mínimo representa um aumento real de 1,85% em relação à inflação projetada de 31 de março do ano passado ao dia de hoje. "Não vejo a hora dos juros baixarem e a economia retomar seu crescimento. E como eu gostaria de dar, já agora, um aumento maior para o salário mínimo", disse.

Sobre as críticas ao programa do governo de combate à fome, o presidente admitiu alguns "tropeços" no início de sua implementação, mas ressaltou que o Fome Zero vai promover mudanças em todos os setores do país. "Esse é o maior programa contra a fome que já foi feito no Brasil. É verdade que tivemos alguns tropeços no início, mas esse é um programa complexo, que implica em várias mudanças estruturais no país. É por isso que nunca foi feito antes", garantiu. O presidente aproveitou o pronunciamento para agradecer a todos que vêm colaborando com o programa, e reiterou sua afirmação de que ficará realizado se, ao final do seu governo, nenhum brasileiro precisar mais de doações para conseguir se alimentar de forma adequada.

O presidente aproveitou o pronunciamento para lembrar que o combate ao crime organizado e à melhoria da segurança pública em todo o país estão hoje entre os principais desafios de seu governo. Ele adiantou que o governo federal vem trabalhando em conjunto com a maioria dos governos estaduais e prefeituras para implantar um sistema único de segurança. "Será a primeira vez que todas as forças policiais do país trabalharão em conjunto, compartilhando cadastros, sistemas de informação, e técnicas de investigação. Afinal, para combater o crime organizado precisamos de uma polícia mais organizada ainda", disse. O presidente também reiterou que já autorizou a construção de cinco presídios federais de segurança máxima - e garantiu que o primeiro estará pronto ainda este ano - além de ter enviado ao Congresso Nacional Medida Provisória que aumenta em quase 70% o efetivo da Polícia Federal.

Outro compromisso do presidente está relacionado com o incentivo cada vez maior à indústria nacional. Lula ressaltou a importância da decisão da Petrobras de rever a concorrência para a construção das plataformas P-51 e P-52, iniciada durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que permitiu a geração de milhares de empregos. "Os termos da concorrência não davam nenhuma chance às empresas brasileiras. E levavam para fora do nosso país milhões de dólares e milhares de empregos. A nova concorrência garante que, pelo menos, 65% da construção das plataformas seja feita aqui, gerando milhares de empregos aqui no Brasil, e não lá fora", garantiu. Nesse sentido, ele foi enfático ao afirmar que irá promover mudanças no país: mudança de atitude e, especialmente, mudança de mentalidade do poder público "que pode e deve ajudar a construir um país mais forte, mais competitivo".

O presidente também criticou a prática de alguns governantes brasileiros de deixar inacabadas obras iniciadas em governos anteriores. Ele adiantou que já mandou realizar um estudo sobre as principais obras não finalizadas no país para que o governo possa corrigir, agora, tudo o que estiver irregular. Na avaliação do presidente, é um "verdadeiro absurdo" a aplicação de milhões de reais em estradas, pontes, viadutos e túneis para que não sejam concluídos.

Lula encerrou seu pronunciamento com uma mensagem de otimismo aos brasileiros. Ele afirmou que, embora tenha assumido a Presidência num momento complicado para o país, "as coisas já estão mudando e vão mudar muito mais" para todos. Lula conclamou a população a confiar no presidente e, sobretudo, no Brasil, para que juntos possam vencer todos as dificuldades. "Com a força de vocês, com o trabalho dos meus ministros, o apoio do Congresso, dos governadores, e dos prefeitos, vamos vencer todos os desafios. Afinal, estamos apenas começando. E eu, estou muito otimista com o futuro do nosso país", enfatizou.

Segundo Lula, "o mundo inteiro" acredita que o Brasil está hoje no caminho certo. "Portanto, só tenho uma coisa a pedir: continue confiando no seu presidente, e o mais importante, continue confiando no seu país. Vem de vocês a energia que precisamos. Ela que me dá força e coragem para mudar o Brasil", finalizou o presidente.