Meirelles passsa pela CAE prometendo manter política de Fraga no Governo Lula

17/12/2002 - 22h32

Brasília, 17/12/2002 (Agência Brasil - ABr) - Depois de mais de cinco horas de sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado Federal, o presidente indicado do Banco Central, Henrique Meirelles, passou no primeiro teste junto a maioria dos senadores, prometendo manter a política monetária do atual presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Meirelles defendeu a continuidade da estabilidade dos preços, mas sem esquecer do crescimento econômico sustentável com prioridade para o capital humano e social.

Mesmo a contragosto de alguns parlamentares, Meirelles garantiu que irá preservar o regime de metas de inflação para conter a alta generalizada dos preços. "Acreditamos na manutenção do Copom e suas atas. O Banco Central tem um compromisso com as metas de inflação", reforçou.
O deputado federal goiano eleito pelo PSDB defendeu ainda uma posição técnica para "lutar de forma implacável" contra a inflação. Segundo ele, mesmo que as atuais altas taxas de juros dificultem o crescimento econômico, a linha de atuação do Banco Central será a de ajustar uma taxa de juros necessária ao combate da inflação.

Em meio a acusações e questionamentos quanto a fidelidade de Meirelles à vida pública e ao PSDB, o futuro presidente da instituição monetária do país defendeu o cumprimento dos contratos internacionais e da autonomia do Banco Central, a partir, por exemplo, de mandatos definidos para os diretores da instituição. Meirelles defendeu também o câmbio flutuante, mas reforçou a necessidade da não dependência da economia interna das oscilações da moeda norte-americana.

Durante o debate na Comissão, do qual participaram cerca de 40 senadores, Meirelles disse que um dos maiores desafios do próximo governo será a desindexação do dólar em relação a dívida pública, para evitar que o valor da dívida varie de acordo com as oscilações da moeda norte-americana - atualmente mais da metade da dívida está indexada ao câmbio.

Apesar de ter sido bem recebido na comissão, Meirelles herdou em seu primeiro compromisso formal no Congresso Nacional um problema que pode enfraquecer sua atuação no Banco Central já no início da condução do novo cargo. Tanto os senadores Antero Paes de Barros (PSDB-MT), quanto Jefferson Péres (PDT-AM) pediram mais explicações ao deputado federal eleito quanto às irregularidades do Banco de Boston, cuja presidência foi ocupada por Meirelles por 12 anos.

Com base no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bancos, aprovado no Senado, os parlamentares afirmaram que cinco das dez investigações da CPI apontaram problemas no Banco de Boston entre 1984 e 1996. Apesar da insistência dos parlamentares para a resposta da pergunta, Meirelles negou, dizendo ter assumido a presidência do banco apenas no final de 1996. "Nada foi encontrado de irregular", concluiu

A senadora Heloísa Helena (PT-AL), principal petista a contrapor-se ao nome de Meirelles para a presidência do BC, foi recomendada pelo Partido dos Trabalhadores, no fim da tarde, a não participar da audiência. Em seu lugar, participou como suplente o senador José Eduardo Dutra (PT-SE). "O que está em jogo é um projeto novo para o Brasil. A indicação de Henrique Meirelles foi a melhor opção", afirmou o presidente do PT, José Genuíno.