Lula: fortalecimento político é o primeiro passo para integração dos países americanos

20/11/2002 - 12h25

Brasília, 20/11/2002 (Agência Brasil - ABr) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que o processo de integração entre os países do continente americano deve se iniciar preferencialmente pelas negociações no campo político. Ele disse que, na segunda etapa, as discussões sobre a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) deverão evoluir para temas referentes à integração nas áreas econômica, social e cultural. Lula fez as declarações em café da manhã, na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, na presença de cerca de 50 parlamentares que participam, no Congresso Nacional, da Cúpula Parlamentar de Integração das Américas,

O porta-voz do presidente eleito, André Singer, disse que, na opinião de Lula, "se a integração política for bem realizada, as oscilações naturais das economias dos diversos países não vão afetar o processo de integração".

De acordo com Singer, Lula entende que os acordos políticos dariam condições efetivas que garantiriam a estabilidade econômica do processo de integração, "que não ficaria sujeito às oscilações naturais das economias dos respectivos países". Para sustentar sua proposta, Lula propôs aos parlamentares a criação do Parlamento Americano, nos mesmos moldes do Parlamento Europeu, o poder legislativo dos países que compõe a União Européia (UE).
"Ele vai se esforçar para que a idéia de um Parlamento Americano venha se constituir tal como existe o Parlamento Europeu", acrescentou o porta-voz.

O presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG), anfitrião do encontro, disse que o futuro do processo de integração das três Américas exige uma pausa para reflexão. Em entrevista após o encontro com Lula e os parlamentares, Aécio manifestou apoio à proposta do presidente eleito: "Lula externou sua posição quanto à necessidade de priorizar a discussão política através de um fórum que busque a identidade política como pressuposto para a integração econômica e comercial. É o Brasil assumindo um papel de absoluto destaque, de protagonista no processo de discussão da integração continental".

Aécio Neves ressaltou que, ao dar prioriedade ao fator político sobre os demais pontos necessários à integração continental, o Brasil defenderá seus interesses e os das 34 nações da região, com exceção de Cuba, mesmo que isso atrase o cronograma de implantação da Alca, que está previsto para para 2005. "Nós temos que nos mover também pelas nossas conveniências", disse o presidente da Câmara. Para ele, o que está trazendo atrasos, sobretudo ao cumprimento do prazo fatal de 2005, são algumas posições do governo norte-americano, restritivas ao comércio bilateral, extremamente protecionista, principalmente no campo da agricultura, no campo da siderurgia".

Ele acrescentou que, no momento em que se busca uma integração, é preciso que, além do discurso, os Estados Unidos adotem ações concretas que beneficiem a todos. "O que nós estamos fazendo, na verdade, é potencializar nossos parlamentos para que atuem com firmeza na questão. Portanto, pode atrasar a implantação da Alca", disse Aécio, ao defender uma posição mais democrática e equitativa nas negociações sobre a criação do bloco econômico.

A Alca poderá ser o maior bloco econômico do mundo. Os 34 países do continente têm Produto Interno Bruto (PIB) superior a US$ 11 trilhões e população próxima de 900 milhões de pessoas.

A embaixadora dos Estados Unidos, Donna Hrinak, uma das convidadas para o café da manhã com Lula, classificou o encontro de "muito importante" para viabilizar a integração dos países americanos. "Estamos aqui porque acreditamos sempre mais na integração, não somente na parte comercial, mas em geral, no hemisfério", disse a embaixadora. Hrinak observou que a integração política proposta por Lula durante o encontro não é uma idéia nova e lembrou que a Cúpulas das Américas, em 1994, em Miami (EUA), estabeleceu uma agenda de 23 iniciativas, a maioria delas política.