Brasília, 20/11/2002 (Agência Brasil - ABr) - Os vinte bolsistas afro-descendentes do Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco (IRBr), que visa preparar candidatos negros a disputarem vagas para a carreira diplomática, participam nesta semana de uma série de compromissos, em Brasília. Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores, o objetivo é promover a troca de informações sobre as suas experiências no processo de preparação para a prova de acesso ao Itamaraty.
Hoje à tarde, os bolsistas participaram de uma reunião com os representantes Bruno Cobuccio, do Ministério das Relações Exteriores, Cristina Reis, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Evair dos Santos, da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Maria de Lourdes Siqueira, da Fundação Cultural Palmares.
Durante a reunião, Maria de Lourdes afirmou que o grande desafio do programa foi implantar a idéia de ação afirmativa pela primeira vez no Estado brasileiro. Ela destacou que quatro ministérios foram sensibilizados para viabilizar o programa – o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, o Ministério de Ciência e Tecnologia, pelo CNPq, o Ministério da Cultura, por intermédio da Fundação Palmares, e o Ministério das Relações Exteriores, por meio do IRBr. A idéia de ação afirmativa transcende a idéia de cotas, que também são importantes para reparar a dívida que o Brasil tem com os negros, acrescentou Maria de Lourdes.
Ela disse também aos bolsistas que eles não devem se tornar diplomatas apenas pelo fato de serem negros, mas porque possuem um conhecimento da história e da descendência africana no país que vai preencher uma grande lacuna na excelência da diplomacia brasileira. A política externa do Brasil funcionará melhor com esta contribuição negra, concordou o secretário Bruno Cobuccio.
Para o bolsista Luiz Antônio Bernardes (28), os candidatos afro-descendentes à carreira diplomática precisam aprimorar o conhecimento das suas origens e tradições africanas. Segundo ele, esta responsabilidade, somada a de representar o primeiro grupo de afro-descendentes brasileiros beneficiados por uma ação afirmativa, serve também como um incentivo para se preparar mais e corresponder às expectativas do programa.
Os 20 bolsistas foram escolhidos entre 403 candidatos originários de diversos estados. O processo de seleção coube a uma comissão técnica constituída por representantes do CNPq, do Conselho Científico e Tecnológico Palmares (C&T Palmares), da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e do Ministério das Relações Exteriores. O método de avaliação incluiu análise do desempenho acadêmico, da clareza e viabilidade do plano de trabalho ou estudo apresentado pelos candidatos, da objetividade e coerência no plano da bolsa para os meses de vigência do programa e da capacidade analítica e de articulação de idéias, verificada por meio de redação sobre os motivos e expectativas do candidato a diplomata.