Brasília, 10 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou hoje a cerimônia de indicação da Pastoral da Criança ao prêmio Nobel da Paz, para rebater as críticas de que em seus dois mandatos se preocupou muito com a economia e pouco com a área social no país. "Há um conjunto de ações desenvolvidas pelo governo que estão conseguindo resultados positivos. Finalmente podemos dizer que não está tudo bem, mas que vai melhorar, com certeza, no futuro", afirmou.
O presidente ressaltou o fato de nunca ter liberado verbas voltadas para a área social observando qual o partido que reivindicava os recursos. "Estou chegando ao final do meu segundo mandato e, se há algo de que me orgulho, é de não ter feito diferença para ninguém deste ou daquele partido. A ação social é para todos", afirmou. Fernando Henrique destacou que em 2002 a liberação de verbas - num ano eleitoral - foi generalizada, "desde que fosse justa".
Sobre a distribuição de renda no país, o presidente reconheceu que os indicadores não são os melhores, mas ressaltou que o governo tem feito a sua parte no quesito transferência de renda. "Vejo dados sobre a distribuição de renda e vejo que ela é muito ruim, uma das piores do mundo, mas o índice Gini, que mede a melhoria da renda, apresentou uma pequena melhora", disse.
Ele lembrou, entretanto, que pela primeira vez na história o governo federal tem repassado a totalidade dos recursos arrecadados com a cobrança dos Impostos de Renda de Pessoa Física e Jurídica para os programas da rede de Proteção Social. E destacou que só neste ano, dos R$ 30 bilhões gastos pelos programas sociais - como o Bolsa Escola e Vale Gás - o governo tinha, de fato, arrecadado R$ 26 bilhões com os dois impostos, ou seja, o repasse foi maior que o valor arrecadado. "Outro modo de transferir renda só se as empresas aumentarem os salários. O governo tem feito sua parte", afirmou.
Entre outras ações positivas para a redução da desigualdade no Brasil, o presidente lembrou, em especial, a Pastoral da Criança, que com 19 anos de existência tem conseguido resultados significativos na queda das taxas de mortalidade infantil no país e no desenvolvimento de uma cultura de tolerância e paz. "A pastoral é um símbolo desta causa que ultrapassa questões partidárias e reúne as mais diversas religiões pela criança", afirmou
A ONG fundada por Zilda Arns - médica e irmã do ex-arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns - é para o presidente um exemplo de democracia e de êxito na parceria entre governo e sociedade civil. "Vamos pouco a pouco melhorando, reduzindo a fome e a desnutrição", disse.
O ministério da Saúde é responsável por 73% do orçamento anual da entidade.
Graças ao trabalho da Pastoral, a taxa de mortalidade infantil média no país é de 30 a cada 1000 crianças nascidas. Fernando Henrique lembrou que em alguns estados do sul do país os índices são melhores, comparáveis aos de países do primeiro mundo, uma vez que estão estacionados em apenas um dígito.
O custo mensal por criança atendida pela Pastoral é de US$ 0,50. Só no Brasil, são mais de 1,6 milhão de crianças e gestantes atendidas pelos mais de 150 mil voluntários que trabalham nas periferias dos grandes centros urbanos e em cidades carentes em todo o país. O trabalho da Pastoral já foi reconhecido por autoridades internacionais e foi implantado em mais 14 países em todo o planeta.
O mais recente país a adotar as técnicas da Pastoral - incentivo ao aleitamento materno; enriquecimento nutricional a base de cascas, folhas e sementes de alimentos; pesagem das crianças e controle de doenças diarréicas - foi Angola, na África. Em 1996, Zilda Arns foi ao país e treinou 17 mulheres para atuar no combate à desnutrição infantil. Hoje existem mais de 800 voluntários que atendem mais de 4 mil crianças naqueles país.
Esta foi a segunda indicação da Pastoral da Criança para o prêmio Nobel da Paz. No ano passado, a ONG perdeu o prêmio para o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Anann.