Brasília, 3 (Agência Brasil - ABr) - A violência escolar é a violência doméstica que migra para a escola. A constatação está permitindo que famílias com histórico de maus tratos contra menores sejam priorizadas no atendimento antes direcionado apenas para alunos, em Pernambuco.
A conduta inovadora de tratamento a familiares agressores é do Projeto Atos - Atendimento Terapêutico e Orientação Social - desenvolvido pela ONG Tortura Nunca Mais, responsável no Estado pelo Programa Paz nas Escolas, do Plano Avança Brasil, coordenado pelo Ministério do Planejamento.
Desde a implantação, em 2001, até o momento, o projeto beneficiou cerca de 200 famílias. A meta é atender 50 pais ou mães por mês em cada uma das oito escolas beneficiadas. O Projeto Atos tem parceria com a Petrobras e beneficia as cidades de Recife, Cabo de Santo Agostinho, Goiana e Ipojuca. Para a ação terapêutica que dá suporte ao Programa Paz nas Escolas, cada município recebe da Petrobras de R$ 25 mil a R$ 37.500. O convênio tem a duração de seis meses, com possibilidade de renovação a cada término de contrato.
O trabalho da equipe de psicoterapia - que inclui assistentes sociais, psicólogos e estagiários do último período de Psicologia - tem o apoio da Universidade de Recife, conselhos municipais, professores, lideranças das comunidades e agentes comunitários de saúde. A melhoria da auto-estima dos assistidos tornou-se uma fonte de incentivo para a continuidade do projeto, garante a coordenadora Mônica Alves Guarines. Com base nos casos e relatos apresentados, Mônica aposta em resultados ainda mais promissores no futuro.
O bairro do Ibura, um dos mais violentos de Recife, é um dos alvos do programa. Segundo a psicóloga, na escola municipal contemplada pelo programa existem 2.500 alunos, procedentes de um universo com graves problemas de violência e de drogas. Mesmo assim, há progressos, afirma. Além da assistência oferecida aos pais nas igrejas e centros comunitários, o ambiente escolar passa a ser trabalhado em função das crianças e jovens vítimas da violência familiar. As dinâmicas de sensibilização são levadas do porteiro ao professor e ao coordenador, e em alguns casos, até ao diretor, acrescenta.
São procedimentos naturais e lógicos, de resgate de humanidade. No caso dos pais agressores, é apresentado um modelo de amor, relata Mônica. Falar olhando nos olhos dessas pessoas é novidade para elas, que vivem num estágio além da violência, o da desesperança - observa a coordenadora do projeto. "A mãe que se acalma consegue olhar o filho nos olhos, aprende a fazer isso. E com a mãe mais centrada, mais serena, o filho também se acalma", garante, reportando-se a alunos com dificuldade de aprendizagem e de relacionamento, que parecem "anestesiados" para alguns professores surpresos com o bom comportamento em sala de aula.
Para exemplificar um dos vários casos de sucesso do projeto, Mônica Guarines cita a história de vida de uma mãe alcoólatra de Recife. Ela dormia no sofá com dois dos sete filhos e os outros cinco dividiam uma única cama de solteiro. Influenciada pelo projeto, parou de beber e arrumou emprego. Meses depois demonstrava ser outra pessoa: comprou um guarda-roupa, um beliche e uma mesa para os filhos estudarem. "Descobri que eu posso viver", disse orgulhosa de si mesma aos amigos do Projeto Atos.