Bolivianos vão às urnas escolher novo presidente

30/06/2002 - 8h28

Brasília, 30 (Agência Brasil - ABr/CNN) - Os bolivianos vão às urnas neste domingo para eleger o próximo presidente, mas tudo parece indicar que nenhum dos 11 aspirantes ao cargo conseguirá a necessária maioria absoluta, segundo as últimas pesquisas eleitorais. Caso isso aconteça, o futuro chefe de estado, que deverá tomar posse no dia 6 de agosto, será escolhido pelos 157 membros do Congresso.

Os legisladores elegerão o presidente entre os dois candidatos que tiverem maior votação popular e definirão, assim, o quinto governo de coligação nos 20 anos de democracia ininterrupta no país. As eleições deste domingo também se destinam à renovação do Congresso boliviano.

A instabilidade política crônica que afeta a Bolívia registrou uma última ditadura em 1980, quando um sangrento golpe militar levou ao poder o general Luis García Meza, então comandante do Exército. O ditador foi derrubado dois anos depois por um movimento militar que abriu caminho a um processo de instauração e posterior consolidação da democracia.

Atualmente, García Meza cumpre uma pena de 30 anos de prisão por genocídio e insurreição contra as autoridades constituídas, entre outros delitos.

O capitão Manfred Reyes Villa, filho do general Armando Reyes Villa, um ex-chefe das Forças Armadas que apoiou o golpe de García Meza, comanda as intenções de voto, segundo a maioria das pesquisas de opinião. Manfredo Reyes Villa, que foi assistente do coronel Luis Arce Gómez, ministro do governo do mesmo ditador e condenado à prisão nos Estados Unidos por narcotráfico, solicitou afastamento da instituição militar em 1989. Empreendeu, então, uma carreira política que, doze anos depois, o conduziu a candidato presidencial pela Nueva Fuerza Republicana (NFR), um partido de centro-direita.

Reyes Villa, de 46 anos, empresário imobiliário e com um curso de gestão de empresas, exerceu quatro mandatos como prefeito de Cochabamba, a terceira cidade mais importante da Bolívia. Alguns analistas políticos pensam que Reyes Villa capitalizou a seu favor a crise por que passam as duas principais forças populistas do país, fundadas na década de 80.

O ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, do Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR), é o principal adversário de Reyes Villa. Sánchez de Lozada baseou a sua campanha na necessidade de "sair da crise, derrotar a corrupção e combater a exclusão social".

Em 1994, o opulento empresário mineiro, de 71 anos, obteve 36 por cento dos votos populares e foi declarado pelo Congresso vencedor das eleições. Desde então, costuma descrever-se como "o único político que chegou rico à Presidência e não precisou roubar". Filho de diplomata, Sánchez de Losada esteve radicado desde a infância nos Estados Unidos, tendo estudado filosofia na Universidade de Chicago.

Foi ministro do Planejamento e se gaba de ter derrotado em 1985 uma hiperinflação anual de 25 mil por cento com um célebre tratamento de choque que abriu caminho ao modelo neoliberal na economia do país. Como presidente, entre 1993 e 1997, Sánchez de Losada promoveu um inovador, mas também criticado, processo de capitalização das principais empresas estatais nos setores petrolífero, das telecomunicações, aeronáutico e ferroviário.

Além disso, transferiu o controle administrativo das empresas e respectivos controles acionários para capitais privados, retendo, no entanto, 49 por cento das ações como "ações populares" que financiariam aposentadorias para os trabalhadores bolivianos. Os seus detratores acusam-no de "vender a pátria".

As sondagens pré-eleitorais colocam em terceiro lugar o também ex-presidente Jaime Paz Zamora, um social-democrata de 63 anos que encarna o estranho caso de um político que nunca passou do terceiro lugar nas eleições presidenciais em que participou, mas que governou o país entre 1989 e 1993. Graças ao sistema de alianças políticas vigente, incorporado em 1984 na legislação eleitoral, Paz Zamora chegou à Presidência com o apoio de um ex-ditador, a quem combateu desde a clandestinidade, durante a década de 1970.

O general Hugo Banzer, que esteve à frente de uma ditadura entre 1971 e 1978, facilitou a ascensão ao poder presidencial de Paz Zamora com o voto dos legisladores da Alianza Democrática Nacionalista (ADN), um partido de direita. Foi um insólito gesto político que lhe rendeu juros oito anos depois.

O sociólogo Paz Zamora, que fundou o Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR) para combater a ditadura de Banzer, em 1971, tendo que viver longo período na clandestinidade, ao assumir o poder anos depois graças ao apoio de seu antigo oponente, disse que as duas forças tinham estendido uma ponte democrática sobre os "rios de sangue" que as separavam.

Em 1997, o agora novamente presidente do MIR facilitou, junto de outros partidos políticos, a aliança que converteu Banzer em presidente constitucional para um mandato de cinco anos.
Banzer renunciou ao cargo em favor do vice-presidente e correligionário, Jorge Quiroga, um ano antes de concluir o mandato. O militar retirado morreu de câncer em maio.

As informações são da CNN.