Brasília, 30 (Agência Brasil - ABr) - A Ação Comunitária do Brasil, ONG que existe há 35 anos no Rio de Janeiro, inaugura dia 4 de julho a exposição Projeto Arte na Comunidade, na Sala Clarival Valladares, do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. Vinte adolescentes e jovens adultos, de 14 a 22 anos, mostrarão o talento para as artes plásticas.
A veia artística dessa nova geração foi descoberta nos cursos dos Centros de Educação Comunitária da ACB/RJ, na Vila do João, uma das 16 comunidades do Complexo de Favelas da Maré e na Cidade Alta/Conjunto de Habitação Popular de Cordovil. O processo foi incentivado pelo professor Wilson Cardoso e coordenado por Rogéria Estrada, que formaram grupos em comunidades com populações de extremo risco social.
Através da iniciação nas linguagens visuais, eles começaram a sonhar e construir projetos de vida. Alguns se transformaram em "multiplicadores", passando a ensinar o que sabem às crianças que se iniciam nas mesmas atividades. Várias manifestações artísticas são propostas às turmas, incluindo a história da arte, o levantamento de iconografia, a pesquisa de material, através das oficinas de pintura, a colagem, a fotografia e a serigrafia. Através da generosidade de alguns artistas plásticos consagrados, foram abertas as portas nos ateliês de Romanelli, Tereza Carvalho e Laerpe Mota, entre outros, o que motivou grandes transformações na vida pessoal e na obra dos alunos.
Para os jovens participantes do Projeto Arte na Comunidade, expor em museu tão importante como o Nacional de Belas Artes vai significar outra revolução. Algo tão importante quanto o convite para participar das exposições organizadas pelo projeto americano Paint Pall's Project, da Fundação Carter, em Atlanta, responsável pelas cinco mostras com os trabalhos dos alunos, inclusive na sede das Nações Unidas, em Nova York.
Em 1999, Gabriela de Azeredo Rocha (atualmente em São Paulo), 15 anos, ficou em segundo lugar entre 600 trabalhos de 21 países na exposição de arte infantil Metro Atlanta Youth Art Exhibition, cujo tema foi drogas. O prêmio de US$ 300 e o certificado da ONU foi uma consagração para a jovem da Cidade Alta.
Outra grande revelação foi o aluno Jim Dawes Florentino, 20, ex-vendedor ambulante na área da Central do Brasil e que sempre sonhou em se aventurar no mundo das artes plásticas. Com incentivo da Ação Comunitária do Brasil, Jim foi se revelando excelente artista. Suas telas são uma explosão de cor e sensibilidade. Em quatro anos, Jim Dawes tornou-se um multiplicador e educador social. Hoje é co-responsável pelo aprendizado de 35 alunos. O ex-ambulante ganhou a menção honrosa no concurso Rio Jovem Artista, promovido pela Prefeitura do Rio, em 1999.
Jim e Gabriela tiveram a oportunidade de realizar uma viagem de estudos a Nova York, podendo entrar em contato com obras do Museu de Arte Moderna de Nova York, MoMa, e do Metropolitam Museum, que só conheciam através dos livros dos Centros. Até àquele momento, Jim jamais tinha pisado em uma cinema.
Através de viagens de estudo e correspondências artísticas, nacionais e internacionais, o projeto vem possibilitando o contato com temas relacionados à identidade cultural. Emilson Feitosa da Silva, 17 anos, por exemplo, desenvolveu a temática da afro-brasilidade, relacionada à presença da grande comunidade localizada na Vila do João e da troca de trabalhos artísticos, realizada com um grupo similar da Namíbia.
Esse projeto inovador e revolucionário busca a promoção da cidadania e da inclusão social através da arte, e conta com o grande apoio das comunidades onde atua. Luís Eduardo de Carvalho, pai da expositora Ana Beatriz, 13 anos, da Cidade Alta, elogia o trabalho que abre espaço "para jovens num mercado elitista de um país como o nosso". Para a multiplicadora Flávia Lucas, 20, da Vila do João, as artes plásticas mudaram o sentido de sua vida. "Antes de entrar p ara os projetos da Ação Comunitária do Brasil eu não tinha visão de futuro."