Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um romance às avessas, ou, um “antirromance”, como o próprio diretor de Boa Sorte, Meu Amor define o longa-metragem de ficção que será exibido na noite de hoje (20), no 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O diretor Daniel Aragão explica que seu filme trata de um encontro amoroso que tem como único resultado o resgate da vida particular de cada um dos personagens.
“Muitas pessoas terminam um relacionamento e renovam a vida. Para mim é um breve encontro, mas é renovador. É um estimulo para eles reencontrarem suas vidas. É um pessimismo otimista”, descreve o diretor.
No filme, de um lado está Dirceu que, aos 30 anos, tenta enterrar o passado da família tradicional da aristocracia do sertão pernambucano no seu atual cotidiano em Recife, capital do estado. De outro, a estudante de música Maria, que compartilha as mesmas origens de Dirceu, mas vive em discordância com o presente, acreditando que “nada é como deveria ser”.
“Um romance seria talvez uma ideia mais concreta do encontro entre duas pessoas e algo recíproco. No caso do filme, esse encontro só funciona para alavancar um reencontro pessoal das personagens”, disse Aragão, descrevendo a relação pouco saudável que se estabelece entre os dois protagonistas.
A inspiração para o filme tem origem na vida pessoal do diretor e em relatos de familiares. Aragão diz que histórias como as que ouvia de sua avó, que perdeu o marido assassinado, e o incidente, a fé e o ânimo, ajudaram a ilustrar a trama.
“Você escuta essas histórias ao longo da sua vida, aos 4 anos de idade, aos 12 anos, e não encontra o significado das coisas. Agora, aos 30 anos, consigo refletir sobre elas e adaptar essas histórias. Está tudo um pouco no filme”, disse.
O diretor pernambucano admite que o seu primeiro longa-metragem é “quase” autobiográfico. “Eu acredito muito neste desafio. Gosto de ter uma bronca na minha vida que tenho que resolver e, particularmente, consigo transformar isso em alguma coisa boa”.
Daniel Aragão diz que o longa aborda os relacionamentos, mas também trata de questões locais, retratando o atual cotidiano da capital pernambucana e o estilo de vida das pessoas originárias do sertão que decidiram trocar sua terra natal por Recife. A história, que coincide com parte da trajetória de Aragão só poderia ser filmada, segundo o próprio diretor, em preto e branco.
“É um filme que lida com o passado e com esse estado da memória, de como as coisas eram. Estou filmando lugares que vivi no Recife e em Água Branca que, para mim, eram lugares coloridos. Para transformar em filme tinha que ser em preto e branco. É a forma de me distanciar da própria realidade”, explicou. Parte do longa foi filmado na própria fazenda da família de Aragão.
Em julho, o longa-metragem foi exibido no Festival de Locarno, na Suiça. Ainda assim, o diretor admite estar nervoso diante da estreia no Brasil. “É muito mais tensa, porque tem muita gente que me conhece e as opiniões são sempre bem fortes aqui. Escolhi fazer o filme porque gosto de surpreender e ser surpreendido. Talvez se concretize minha vontade na noite de hoje”.
Boa Sorte, Meu Amor, que disputa na categoria longa-metragem de ficção, a principal dentre as mostras competitivas do Festival de Brasília, será exibido a partir das 21 horas na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional.
A exibição será precedida pelo curta-metragem documentário paulista A Guerra dos Gibis, de Thiago Brandimarte Mendonça e Rafael Terpins e pelo longa documentário Otto, de Cao Guimarães, que serão exibidos a partir das 19 horas. Na sequência, o público pode conferir a animação em curta-metragem O Gigante, dos catarinenses Julio Vanzeler e Luís da Matta Almeida e o curta-metragem de ficção A Mão Que Afaga, de Gabriela Amaral Almeida, de São Paulo.
Os filmes das mostras competitivas são exibidos também no Teatro Newton Rossi, no Sesc de Ceilândia, no Teatro de Sobradinho, no Teatro Paulo Autran, no Sesc Taguatinga e no teatro do Sesc do Gama. No dia seguinte, a programação poderá ser conferida no cinema do Centro Cultural Banco do Brasil.
Edição: Fábio Massalli
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