Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Cinco pessoas ficaram feridas em tumulto na Câmara de Vereadores de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, após o adiamento da votação de um projeto sobre desapropriação de terrenos para construção de casas populares. A Câmara voltou a funcionar normalmente hoje (3).
A confusão começou por volta das 21h25 de ontem (2) depois do projeto, de autoria da prefeitura, não ter entrado na ordem do dia de votações por falta de uma assinatura. O projeto prevê a desapropriação de duas áreas - no limite entre Taboão da Serra e a capital paulista e outra próxima à Avenida Castello Branco – para fins de interesse social. Para ser apreciada em regime de urgência, a proposta precisava da assinatura de nove dos 13 vereadores. Calcula-se a construção de 1,4 mil apartamentos populares nas áreas, conforme os movimentos sociais.
Com o adiamento da votação, cerca de 350 manifestantes de movimentos sociais ligados à moradia popular iniciaram o tumulto, que resultou na quebra de cadeiras, vasos, móveis e portas de vidro do plenário, de acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM).
Segundo o presidente da Câmara, José Macário Custódio Correia (PT), parte dos vereadores preferiu adiar a votação devido à complexidade do tema, que demanda mais análise. De acordo com ele, o projeto vai alterar o Plano Diretor do município (referente ao ordenamento territorial e desenvolvimento urbano). Macário relatou que os manifestantes, que acompanhavam a sessão, ficaram exaltados com o adiamento. “Eu pedi três vezes, se eles não se controlassem, eu suspenderia a sessão. Como eles não obedeceram as ordens, eu encerrei a sessão. E aí começou o quebra-quebra”, contou.
Guilherme Boulos, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), tem outra versão:“O pessoal do movimento começou a reclamar, mas de maneira pacífica. Ele [José Macário] disse que se o tumulto continuasse, ele ia encerrar a sessão. Em seguida, ele encerrou a sessão. Isso começou a gerar um empurra-empurra e um guarda jogou spray de pimenta nas pessoas. Aí começou a confusão”.
De acordo com o secretário de Segurança Pública de Taboão da Serra, Silas Santana, dez guardas municipais estavam no local no momento da confusão. Mais 50 deles estavam na Câmara, à paisana, acompanhando a apreciação de um projeto sobre aposentadoria especial da categoria, e ajudaram a controlar o tumulto. “Eles [manifestantes] romperam a divisória de alumínio que separa a tribuna do público e partiram para cima dos vereadores, na tentativa de agredi-los”, disse Santana.
Os guardas usaram spray de pimenta para dispersar as pessoas. Os manifestantes relataram ter visto policiais atirando para o alto. Os disparos são “de autoria desconhecida", segundo a Guarda Municipal.
Três manifestantes e dois guardas tiveram ferimentos leves e foram levados ao pronto-socorro. Os três manifestantes foram detidos e liberados depois do registro de boletim de ocorrência. Todos os feridos já deixaram o hospital.
A Polícia Civil vai analisar as imagens gravadas durante a confusão. Um inquérito será aberto para apurar quem são os responsáveis. O presidente José Macário estuda limitar o número de pessoas no plenário e reforçar a segurança na próxima terça-feira (9), quando o projeto voltará a ser analisado. Os prejuízos com a confusão são estimados em cerca de R$ 15 mil.
Edição: Carolina Pimentel